Atlético-MG lança campanha contra abuso infantil e gera polêmica com condenação de Cuca

O Atlético Mineiro lançou na manhã desta quarta-feira (28) uma campanha em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese) contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. A iniciativa de conscientização, porém, gerou grande repercussão e dividiu opiniões nas redes sociais, sendo ofuscada pelas críticas direcionadas ao histórico do atual técnico do clube, Cuca.
A polêmica surgiu imediatamente após a publicação do anúncio nas plataformas digitais do clube, que permanece online. Torcedores e parte da opinião pública manifestaram desconforto com a aparente contradição entre a mensagem da campanha e a condenação de Cuca por um caso de violência sexual ocorrido na Suíça na década de 1980.
O caso remonta a 1987, quando Cuca, então jogador do Grêmio, e outros três atletas foram acusados de envolvimento em relação sexual sem consentimento com uma jovem de 13 anos durante uma excursão em Berna, Suíça. A investigação local indicou que a adolescente foi levada para o quarto dos jogadores, onde foi abusada.
Os quatro jogadores foram detidos por aproximadamente um mês antes de serem liberados mediante o pagamento de fiança. Dois anos depois, em agosto de 1989, o julgamento ocorreu sem a presença dos acusados. Na sentença, Cuca, Eduardo e Henrique foram condenados a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência. Fernando foi absolvido da acusação principal, mas condenado por envolvimento no ato violento. Cuca sempre negou ter cometido o crime.
A gravidade do processo foi reiterada em abril de 2023, quando a diretora dos Arquivos do Estado do Cantão de Berna, Barbara Studer, confirmou em entrevista ao portal ge.globo a existência de documentos que comprovam a presença de sêmen de Cuca no corpo da vítima e o reconhecimento do treinador pela jovem durante a investigação.
Cuca se manifestou publicamente sobre a condenação apenas em 2024, ao ser anunciado como técnico do Athletico Paranaense. Em um depoimento lido, elaborado com o apoio da família, ele refletiu sobre o episódio e seu impacto. Afirmou que não é apenas sobre ele, mas que também o envolve, e reconheceu que, ao contrário das vítimas, conseguiu seguir a vida. Declarou que o mundo do futebol e o masculino historicamente não o cobravam, mas que a sociedade está mudando. Cuca disse entender que o silêncio soa como covardia e manifestou o desejo de ouvir, entender e aprender mais. Ele reconheceu que não pode mudar o passado, mas que homens podem refletir sobre suas atitudes. Afirmou que o mundo é diferente para homens e mulheres e que, embora possa haver resistência, as coisas estão mudando, mas requerem tempo e dedicação. O treinador disse entender que a cobrança sobre ele reflete a forma como as mulheres são tratadas na sociedade e expressou o desejo de fazer parte da transformação através da educação, usando sua voz para se educar e ajudar a educar outros homens, especialmente jovens atletas, sobre respeito e sobre como sucesso e fama não justificam o desrespeito. Ele concluiu que o problema não foi resolvido apenas com a decisão judicial, mas que ele precisava entender o que a sociedade esperava dele e prometeu demonstrar seu compromisso com atitudes.
Apesar da intenção da campanha em parceria com o governo estadual, as críticas dominaram os comentários nas redes sociais do clube. Muitos torcedores apontam a incoerência entre a mensagem de combate ao abuso infantil e o histórico judicial do treinador. Até o momento, o Atlético não se pronunciou oficialmente sobre a polêmica gerada.
O @governomg, através da Sedese, está em ação pelo combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.
O Atlético se junta à campanha e convoca a Massa a fazer o mesmo: atenção aos sinais e, principalmente, não se cale! Disque 100 e denuncie!
Saiba mais em… pic.twitter.com/a0YpMz5aZj
— Atlético (@Atletico) May 27, 2025
