Bahia enfrenta desertificação: Cerrado e Caatinga sofrem com aridez crescente

Publicado em 16/08/2025 às 03:03:54
Bahia enfrenta desertificação: Cerrado e Caatinga sofrem com aridez crescente

A Bahia, estado que abriga extensas áreas dos biomas Cerrado e Caatinga, enfrenta um cenário preocupante de crescente aridez e suscetibilidade à desertificação. Estudos recentes, como o realizado pelo Inpe e Cemaden em novembro de 2023, identificaram a primeira microrregião árida do país no norte baiano, abrangendo municípios como Abaré, Chorrochó, Glória, Macururé, Paulo Afonso e Rodelas. Este diagnóstico, que aponta para um crescimento histórico das zonas semiáridas no Brasil, alerta para o aumento de queimadas e os severos impactos na agricultura e pecuária devido à escassez hídrica.

Um mapeamento da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), divulgado neste ano, corrobora a vulnerabilidade do estado, utilizando o índice de aridez de Thornthwaite para identificar áreas com maior suscetibilidade à desertificação. O mapa revela que a região do Rio São Francisco, no centro e norte do estado, apresenta um índice de aridez que indica alta propensão à desertificação, enquanto o litoral e o oeste baiano mostram menor suscetibilidade.

Diante deste quadro, o governo estadual implementa o Plano Estadual de Convivência com o Semiárido (2020-2029), que visa promover a resiliência e a sustentabilidade em cerca de 85% do território baiano. O plano inclui mais de 100 ações e 20 diretrizes, com foco em regularização fundiária, bancos de dados sobre inovações e tecnologias adaptadas ao semiárido, e a cooperação entre as diversas áreas do governo. Segundo Tiago Porto, diretor de Políticas e Planejamento Ambiental da Sema, as iniciativas foram planejadas antes da descoberta da microrregião árida e buscam tornar a vida no semiárido mais digna e próspera.

Porto destaca que a aridez crescente é um processo gradual, acelerado pela exploração inadequada dos recursos naturais, e que a vegetação da Caatinga, em particular, é sensível a mudanças, com dificuldade de recuperação após intervenções humanas. O estado tem investido em sistemas de abastecimento de água e fornecimento de carro-pipa, com um esforço direcionado para o território de Itaparica, considerado mais vulnerável.

A superação deste desafio, segundo Porto, exige transformações em todas as esferas da sociedade, desde a infraestrutura e alimentação até a formação profissional e os deslocamentos, visando a redução da emissão de gases de efeito estufa. O Inventário da Emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) do Estado da Bahia (2020-2022), divulgado em 2024, posicionou a Bahia em 9º lugar no ranking nacional de emissões brutas de GEE.

Paralelamente às ações governamentais, a sociedade civil também se mobiliza. A Fundação Verde – Herbert Daniel, através do projeto "A Tenda Verde", busca incentivar debates sobre a desertificação, envolvendo lideranças comunitárias e especialistas em meio ambiente. O presidente do Partido Verde na Bahia, Ivanilson Gomes, e a coordenadora do projeto, Vânia Almeida, ressaltam a importância de dar visibilidade às soluções locais e de envolver a comunidade nas discussões sobre mudanças climáticas.

A iniciativa se alinha à preparação para a COP30, que ocorrerá em Belém. Almeida enfatiza a necessidade de financiamento para apoiar as comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, fundo e fecho de pasto), que são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, apesar de não serem as maiores emissoras. Ela reforça a importância da união entre sociedade civil, poder Executivo e Legislativo para enfrentar a questão ambiental de forma integrada.

Atualmente, 289 municípios baianos são suscetíveis à desertificação, o que reforça a urgência de ações para frear o avanço do processo. A expectativa é reunir lideranças para discutir a temática na COP, buscando soluções conjuntas para garantir a resiliência climática e a sustentabilidade no estado.