Empreendimentos florestais impulsionam exportações e sustentabilidade na Bahia

Publicado em 05/06/2025 às 03:04:50
Empreendimentos florestais impulsionam exportações e sustentabilidade na Bahia

Em um cenário global onde Meio Ambiente e Sustentabilidade ganham destaque, a recuperação de áreas degradadas e o manejo consciente dos recursos naturais emergem como pautas cruciais. Na Bahia, estado que abriga os biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, pressionados por diversos fatores, o setor florestal de base desponta, combinando iniciativas de impacto social com as demandas crescentes do mercado.

Os dados da plataforma Agrostat, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), revelam a força econômica do segmento no estado: em 2024, produtos florestais representaram 22,44% das exportações baianas. No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, este jornal investiga como empreendimentos sustentáveis transcendem o engajamento social para se consolidarem como projetos financeiramente rentáveis.

Um exemplo emblemático dessa rentabilidade-sustentável é a Symbiosis, uma empresa florestal com atuação na Bahia. Beneficiada por um financiamento de mais de R$ 77 milhões do Fundo do Clima, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Symbiosis foca no manejo de espécies nativas da Mata Atlântica. Sua proposta une o reflorestamento de áreas degradadas à comercialização de produtos madeireiros, além de mudas e material genético. A sede da empresa localiza-se em Trancoso, distrito de Porto Seguro, na Costa do Descobrimento.

Alan Batista, um dos diretores do projeto e engenheiro florestal, explica que a escolha pelo extremo-sul baiano remonta à visão original da iniciativa. "A Mata Atlântica é um bioma grande. É a casa da maioria dos brasileiros, 130 milhões de brasileiros moram na Mata Atlântica", afirma. A região foi escolhida estrategicamente: "Ali que começou a destruição da Mata Atlântica, e é ali que a gente pensou em começar a reconstrução".

A decisão, segundo Batista, vai além do simbolismo. Fatores técnicos pesaram: "Tem outros fatores também que são super importantes para nossa atividade, que é a disponibilidade de áreas degradadas, desmatadas, a gente só trabalha em áreas que estão degradadas para a gente recuperar". Ele cita ainda a oferta de chuva ("um fator primordial"), a estabilidade climática do sul da Bahia e a infraestrutura existente, como estradas e portos.

Batista destaca que a silvicultura – a prática do cultivo e manejo florestal – adiciona valor ao estado não apenas economicamente, mas também pela proteção do material genético das espécies nativas. Esse trabalho consiste na seleção de fragmentos de plantas da mata original, que se tornam "árvores-mães". Delas, retiram-se materiais genéticos para melhoramento por meio de cruzamentos. A Symbiosis já registrou 2.000 matrizes de árvores-mães, representando cerca de 30 famílias distintas por espécie.

"Você pega os melhores [fragmentos] e colocam eles para cruzarem entre si, polinizar entre si. E as sementes que nascerem disso são sementes melhoradas", detalha Batista. Ele ressalta o legado desse processo: "No final das contas, a gente está fazendo uma reserva genética. E isso é muito importante, é um legado que a gente deixa para o país. A gente tem um banco genético do Brasil, onde, por exemplo, se alguém quiser fazer uma restauração, repovoar uma área com Pau-Brasil, tem como buscar isso nas nossas áreas. Então isso é uma riqueza muito grande, que é intangível".

Trata-se de um projeto de médio e longo prazo, com resultados começando a aparecer entre 5 e 8 anos, embora algumas mudas levem mais de 20 anos para amadurecer. Ao abordar o mercado, Batista identifica a responsabilidade ambiental como um desafio na comercialização. Dada a reputação afetada pela exploração ilegal (um estudo da Rede Simex de 2022 indicou que 40% da madeira tropical circulante no Brasil era ilegal), a credibilidade dos empreendimentos florestais, mesmo os mais rigorosos, é questionada. "Historicamente, nos últimos 20 anos, o Brasil tem diminuído sua participação no mercado de madeira tropical. Eu acho que a principal variável aqui é reputação", analisa Batista. Ele ouve de potenciais clientes a hesitação em trabalhar com flora nativa devido ao risco e à dificuldade em garantir a cadeia de custódia e rastreabilidade.

No entanto, o engenheiro florestal vê na legalização e nas certificações ambientais a chave para acessar mercados globais. "Tem um mercado muito grande que a gente pode absorver", afirma. O mercado mundial de madeira consome cerca de 4 bilhões de m³ anualmente, uma média de meio metro cúbico por habitante. "E o Brasil tem uma participação ínfima", pontua. O potencial de crescimento é enorme para quem consegue comprovar a cadeia de custódia de seu produto, pois é "plantado, é certificado, e o FSC traz bastante robustez, transparência para esse processo", defende Batista.

Em 10 anos de operação, a Symbiosis já movimentou um volume significativo de recursos. "Já investimos mais de 100 milhões de reais na produção de floresta, na formação de time e na produção de mudas", revela Batista. Atualmente, a empresa possui um viveiro com capacidade para produzir 5 milhões de mudas por ano. "É um giro bastante grande", diz ele. A Symbiosis vende mudas e planeja iniciar em breve a comercialização de créditos de carbono e madeira. "Eu acho que diversificação é algo muito importante para os nossos acionistas e também para o desenvolvimento regional", conclui.

Para entender o impacto econômico mais amplo do setor, o jornal conversou com Wilson Andrade, representante da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF). Andrade aponta o eucalipto como a espécie mais explorada pelos produtores baianos, embora espécies nativas, especialmente as frutíferas, também sejam aproveitadas.

Andrade defende que a rentabilidade-sustentável "é o caminho" para o fortalecimento do segmento. "É o caminho para este novo mundo verde que nós estamos ajudando a construir. E o setor de base florestal é fundamental e exemplar em todos os quesitos", afirma. Ele detalha as vantagens ambientais, econômicas e sociais do setor de árvores plantadas, ressaltando que, utilizando apenas 1% do território baiano, abastece oito segmentos da economia, aliviando a pressão sobre a mata nativa.

Assim como Alan Batista, o presidente da ABAF destaca o mercado crescente de crédito de carbono, gerado pela não emissão de dióxido de carbono e certificado por mecanismos como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo). No Brasil, a legislação ambiental e energética que regulamenta o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) – Decreto nº 5.882/2006 – visa a redução de gases de efeito estufa e o desenvolvimento sustentável, criando um ambiente favorável para a atuação das empresas florestais nesse mercado, com potencial de vínculo com setores como a mineração.

Apesar da diversidade de produtos e investimentos, a celulose é o principal produto derivado dos empreendimentos florestais na Bahia, sendo utilizada em diversos setores, desde a fabricação de papel e envelopes até o mercado têxtil, na produção de viscose.

A ABAF conta com 22 empresas associadas diretamente e outras 300 vinculadas a quatro centrais regionais. Andrade explica que essas centrais cobrem os principais polos de produção florestal no estado: o extremo sul, o maior polo; o litoral norte, de Alagoinhas até Sergipe, focado em celulose especial para viscose; o oeste, com uso para energia e processamento de grãos; e o sudoeste, na região de Vitória da Conquista, com diversas utilidades da madeira.

Tanto a Symbiosis quanto a ABAF concordam que o crescimento do mercado de base florestal representa uma grande oportunidade para as empresas brasileiras, com a Bahia posicionada como uma força regional. "A demanda de madeira no mundo cresce mais de 3% ao ano e a Bahia e o Brasil são um dos grandes produtores", observa Andrade. Ele reforça o compromisso do setor com a sustentabilidade: "Nós temos mais de 8 milhões de hectares de áreas devastadas no nosso estado, que foram pasto, então nosso setor só utiliza a área degradada, a gente não tira a mata nativa".