'Não preciso pensar na pressão o tempo inteiro', diz João Fonseca em Roland Garros

Em sua primeira interação com a imprensa em Roland Garros, o jovem João Fonseca, de 18 anos e atualmente 65º no ranking mundial, enfrentou diversas perguntas sobre a pressão que o cerca. Apesar da pouca idade e da posição no ranking, o tenista carioca chega ao Aberto da França sob intenso escrutínio e grandes expectativas, um reflexo do sucesso precoce.
Curiosamente, as recentes eliminações na primeira rodada nos torneios de Estoril, em Portugal, e Roma, na Itália, no final de abril e início de maio, respectivamente, teriam aliviado um pouco essa carga de expectativas. No entanto, a entrevista coletiva e os primeiros treinos no complexo parisiense confirmaram o enorme interesse da mídia internacional no brasileiro.
Fonseca abordou a questão da pressão com pragmatismo. "Não é que eu não goste de falar sobre a pressão. Só acho que tenho que evitar, não preciso ficar também pensando sobre isso o tempo inteiro, e sim no que eu tenho que fazer, trabalhar, melhorar, evoluir", declarou o tenista, que terá uma estreia desafiadora contra o polonês Hubert Hurkacz, número 31 do mundo. A partida contra o adversário experiente está prevista para a segunda-feira (26).
Questionado sobre como lida com a intensa atenção sendo tão jovem no circuito, Fonseca ressaltou que está "aproveitando a vida profissional" e "alcançando coisas boas". Ele frisou que, por ser jovem, está "aprendendo toda semana" e que sua forma de lidar é "dar o meu melhor", focando na rotina e nas "pessoas boas ao meu lado" que o ajudam. "As coisas estão seguindo seu próprio caminho. Apenas foco nas minhas rotinas e jogo no meu tempo", completou.
O brasileiro também relembrou sua marcante campanha no Australian Open deste ano, onde chegou à segunda rodada e enfrentou e derrotou o top 10 Andrey Rublev. Para ele, jogar no maior estádio e contra um dos melhores do mundo foram experiências cruciais. "Aprendi como jogar nesses estádios. Foi uma experiência para mim. Minha primeira chave principal. Depois da Austrália, muita coisa mudou. Agora estou um pouco mais experiente nesse tipo de circunstância", avaliou.
Sobre seu nível de confiança atual, Fonseca se mostrou otimista. "Me sentindo bem. Tendo bons treinos. Ganhando sets contra jogadores muito bons", disse, reconhecendo que o tênis, como qualquer esporte, tem "altos e baixos" e momentos de menor confiança. No entanto, ele reiterou: "Ao mesmo tempo, estou me sentindo muito confiante. Estou jogando muito bem". Ele encara a primeira participação em Roland Garros como "outra experiência" de aprendizado semanal.
Ao comentar sobre sua melhor superfície, o tenista apontou o saibro, por ter nascido e crescido jogando nele. Contudo, a adaptação à quadra dura, onde jogou intensamente nos últimos meses, também foi destacada. O objetivo, porém, é se aprimorar na grama. Ele admitiu que a transição entre saibro e dura em torneios ATP tem sido um desafio de adaptação mental.
A importância de estar bem cercado e "protegido" por sua equipe foi outro ponto levantado por Fonseca para lidar com a pressão externa. Ele vê isso como fundamental nesta fase de evolução, com pessoas que compartilham o objetivo de crescer e o blindam das expectativas excessivas e comparações. "Quanto mais eu estiver focado no meu tênis, no que eu tenho que fazer nas minhas rotinas, e não focado na mídia, nas expectativas que as pessoas falam, nas comparações, acho que o meu tênis vai melhorar e eu vou ter uma carreira mais bem-sucedida", analisou.
As dificuldades recentes em Roma e Madrid, assim como a saudade da família (um desafio para tenistas sul-americanos pela distância), foram tratadas como parte do processo. Fonseca entende que os altos e baixos são inerentes ao esporte e que está aprendendo a lidar com a pressão e a enfrentar jogos difíceis neste nível. Ele mencionou que uma semana recente no Rio o ajudou a "refletir", e que agora se sente "bem melhor dentro de quadra, mais à vontade, mais feliz e mais confiante também".
Por fim, sobre a sensação de jogar em Roland Garros pela primeira vez na chave principal profissional, Fonseca expressou grande apreço pelo torneio. "É sempre bom, Paris, foi o meu primeiro Grand Slam, como juvenil. Então, eu acho esse torneio maravilhoso, acho o mais tradicional, mais bonito, pelo saibro, porque como eu já disse, eu nasci no saibro e porque eu gosto do saibro, eu acho lindo. E Paris é diferente, realmente é diferente", descreveu, antes de reiterar a necessidade de focar no trabalho e não na pressão.
A estreia contra Hurkacz foi avaliada como "bem difícil". "Um jogador com quem eu nunca treinei. Vai ser uma experiência nova. Um jogador que é experiente no tour. Não é a melhor superfície dele, mas, do mesmo jeito, ele é um jogador top 30, já foi top 10, então vai ser muito difícil", concluiu.