Netanyahu Defende Ocupação de Gaza Contra Pressão Internacional e Críticas Internas

Em uma coletiva de imprensa neste domingo (10), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reafirmou seu plano de expandir a guerra e ocupar a Cidade de Gaza, argumentando que a recusa do Hamas em se render o obriga a "terminar o trabalho". A decisão, que visa "libertar Gaza do terrorismo do Hamas", ocorre em meio a intensa pressão de países europeus, familiares de reféns israelenses e nações árabes e muçulmanas, além de uma crescente indignação com a crise humanitária no território palestino.
Diante da condenação internacional, Netanyahu justificou a ação declarando que o Hamas ainda conta com "milhares de terroristas armados". Sua fala contrasta com a posição de seu principal aliado, os Estados Unidos sob a administração de Donald Trump, que não endossou as críticas. Ativistas e organizações de direitos humanos chocaram-se com o anúncio, citando "violações em série" ao longo dos 22 meses de conflito e relembrando acusações de genocídio feitas por ONGs israelenses, negadas por Tel Aviv.
A restrição de ajuda humanitária a Gaza foi um dos pontos centrais das críticas. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, relatou cinco mortes por fome no domingo, elevando para 217 o número de óbitos por desnutrição desde o início da guerra, sendo 100 crianças. Segundo a Defesa Civil de Gaza, mais de 61 mil pessoas foram mortas por Israel no conflito, com 27 mortes registradas no domingo, incluindo 11 por tiros enquanto aguardavam distribuição de alimentos.
Netanyahu inicialmente evitou responder sobre a fome generalizada em Gaza, criticando a imprensa internacional por veicular imagens de crianças com condições de saúde preexistentes. Minutos depois, admitiu um "problema de privação", atribuindo a causa ao Hamas e à ONU por suposta recusa na entrega de suprimentos.
Estatísticas militares israelenses indicam a entrada diária de cerca de 140 caminhões de ajuda, um quarto do mínimo necessário, segundo agências humanitárias. Organizações locais apontam que Israel bloqueou a ajuda por 11 semanas e monopolizou a distribuição através da controversa FHG, com apenas quatro pontos de entrega para mais de 2 milhões de habitantes, em contraste com os 400 centros antes coordenados pela ONU. Desde então, quase 1.400 palestinos foram mortos buscando ajuda, a maioria por soldados israelenses, conforme a ONU.
A ONU e outras organizações se recusaram a colaborar com a FHG por não respeitar princípios humanitários, como a necessidade de supervisão neutra. A imprensa internacional enfrenta restrições para cobrir o conflito, embora Netanyahu tenha prometido facilitar a entrada de jornalistas estrangeiros.
O primeiro-ministro reiterou que o objetivo não é permanecer em Gaza, mas destruir "os dois últimos bastiões do Hamas". Ele propôs entregar o território a um órgão civil não israelense, descartando o retorno da Autoridade Palestina.
O plano gerou descontentamento entre famílias de reféns, que temem pela vida de seus entes queridos. Há relatos de divergências entre Netanyahu e o chefe do Exército sobre o plano, considerado uma armadilha. O Hamas alertou que a ofensiva resultaria no "sacrifício" dos reféns. "O gabinete decidiu o destino dos reféns: os vivos serão mortos e os mortos desaparecerão para sempre", declarou Einav Zangauker, mãe de um refém.
Internacionalmente, a pressão aumentou com a possibilidade de países reconhecerem o Estado palestino. Netanyahu rebateu, afirmando que os palestinos "querem destruir um Estado. O Estado judeu". A extrema direita israelense, por outro lado, criticou o premiê por não ir além da Cidade de Gaza. Ministros como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich expressaram desejo pela transferência da população e colonização, ou acusaram Netanyahu de "se render aos fracos" em busca de um acordo parcial.
O líder da oposição, Yair Lapid, também criticou o plano, alegando desmantelamento interno do país pela mobilização de reservistas.