Pressão no esporte amador: como a busca por desempenho afeta a saúde mental

A prática esportiva, como corrida de rua, natação e crossfit, é amplamente reconhecida por seus benefícios à saúde física e mental. Contudo, quando o desejo por resultados se torna uma obsessão, o esporte pode acarretar riscos. Nos bastidores do esporte amador, um problema silencioso tem crescido: a pressão por desempenho e sua ligação com o surgimento de doenças mentais.
Em alusão ao Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio e atenção à saúde mental, o BN lança uma série de reportagens focadas na temática, com destaque para as dificuldades enfrentadas por atletas nas categorias de base do futebol brasileiro.
A transição de jovens jogadores para o cenário profissional é marcada por um processo conhecido como "funil estreito", dada a baixíssima probabilidade de sucesso. Segundo o artigo "Jogadores de Futebol no Brasil", publicado pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte, apenas 1,5% das crianças que iniciam no esporte chegam a se tornar profissionais.
O atleta amador Aristides Neto compartilhou sua experiência nas categorias de base do futebol, onde a cobrança por resultados se mostrou um fator prejudicial. "Sempre vai ter pressão durante a categoria de base. Eu sempre fui um cara que me cobrei muito, então, eu sempre me cobrava, queria melhorar, queria correr mais, queria estar mais magro, queria ser o melhor, queria fazer muitos gols, então sempre me cobrava. Além disso, a família também te cobra muito, é doloroso você ter que responder sobre algo que não está dando certo", relatou.
Neto, que passou por diversas categorias de base em clubes do Brasil e da Espanha, incluindo Vitória, Bahia, Avaí e Flamengo, viu suas oportunidades diminuírem devido a lesões e problemas de saúde, o que o levou ao desânimo. Relatos como o dele são comuns entre ex-atletas que não alcançaram o profissionalismo, gerando impactos psicológicos significativos.
Aristides detalhou episódios marcantes, como uma lesão que o afastou dos gramados por meses e, posteriormente, uma amidalite que prejudicou seu desempenho em um teste no Bragantino, culminando em sua dispensa e na necessidade de cirurgia. Após superar essa fase, ele se dedicou ao triatlo, participando de uma maratona e um Ironman.
No entanto, a frustração por não atingir seus objetivos no futebol impactou sua saúde mental. "Entre os 22 e os 25 anos, foi bem difícil para minha saúde mental. Eu não conseguia assistir nenhuma partida de futebol que eu chorava. Comecei a beber muito. Sempre via minha mãe chorando, meus amigos por mim então, foi muito doloroso. Mas depois disso eu segui meu caminho, segui minha vida."
A psicóloga esportiva Joanna Koehne enfatiza a importância da humanização do atleta e do acompanhamento profissional. "Atletas são também seres humanos além de atletas. O sofrimento não vai estar só ligado muitas vezes ao esporte, tem questões pessoais, familiares e mais coisas que estão ali envolvidas também", explicou.
Joanna ressalta que a busca por ajuda psicológica não se limita a lidar com problemas já existentes, mas também a prevenir o desenvolvimento de dificuldades. "A psicologia está não só como um meio para ajudar a lidar com os sintomas, as dificuldades, mas também um meio para ajudar a prevenir que isso não te afete. Pensando no esporte, que isso não afete seu rendimento, não afete o seu desempenho. É interessante que você como ser humano tenha esse tipo de acompanhamento, você como indivíduo."
A profissional também aponta que as principais queixas entre atletas baianos envolvem o não alcance de objetivos, ansiedade pré-competição e a lidar com a falta de validação de clubes. Para Koehne, é fundamental que os atletas "se divirtam durante o processo", transformando o esporte em fonte de prazer e não em um fardo.
A psicologia esportiva, segundo ela, atua como um complemento de uma rede de apoio, auxiliando o atleta a entender seus momentos, criar novos objetivos e desenvolver estratégias para lidar com pressões, lesões e frustrações, permitindo que ele progrida mesmo diante das adversidades.



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