Tarcísio de Freitas: Estratégia presidencial combina mercado, centro-direita e lealdade a Bolsonaro, com distanciamento dos filhos

Publicado em 25/08/2025 às 10:04:30
Tarcísio de Freitas: Estratégia presidencial combina mercado, centro-direita e lealdade a Bolsonaro, com distanciamento dos filhos

Considerado principal pré-candidato da oposição à Presidência em 2026, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) estreita vínculos com o mercado financeiro, o agronegócio e os partidos de centro-direita, enquanto isola os filhos de Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político, e reforça a lealdade ao ex-presidente.

Em meio à série de notícias negativas para seu campo, que inclui o tarifaço de Donald Trump, a prisão domiciliar de Bolsonaro e o novo indiciamento dele e de seu filho Eduardo, deputado federal que está nos Estados Unidos, Tarcísio participou de eventos que ampliaram sua visibilidade como presidenciável, mas sem se descolar do ex-presidente.

No campo do apoio empresarial, ele participou de eventos dos bancos BTG e Itaú, da corretora de investimentos Warren e do Secovi, associação do setor imobiliário paulista, além de dois fóruns do setor agropecuário. Já no campo político, participou da convenção que uniu Progressistas e União Brasil e do jantar em Brasília, na casa do presidente do União Brasil, Antônio de Rueda -grupo que abertamente trabalha para consolidar sua candidatura.

Além disso, deu uma palestra na Igreja Batista Lagoinha de Alphaville, na região metropolitana de São Paulo, em aceno a evangélicos; teve um almoço promovido por Alexandre Bettamio, do Bank of America, segunda maior instituição financeira dos EUA; e participou de jantares com artistas como Latino, Wesley Safadão e Felipe Araújo.

Nos encontros, Tarcísio foi tratado como presidenciável e fez discursos para promover a própria gestão ou criticar o governo Lula (PT), mas sem deixar de expor gratidão a Bolsonaro por ter apostado nele para o governo paulista. Os acenos, no entanto, se restringem ao próprio ex-presidente e não incluem, por exemplo, a defesa de Eduardo ou de outros bolsonaristas na mira do STF (Supremo Tribunal Federal).

Ainda em maio, quando Eduardo já estava nos Estados Unidos pregando sanções ao ministro Alexandre de Moraes, Tarcísio trabalhava por uma unificação da centro-direita contra a reeleição do presidente Lula.

Em um evento para filiar seu secretário Guilherme Derrite ao PP, que reuniu Valdemar Costa Neto (PL), Antônio de Rueda (União Brasil), Ciro Nogueira (Progressistas), Gilberto Kassab (PSD) e Renata Abreu (Podemos), mas foi boicotado por aliados do clã Bolsonaro, o governador exaltou essa união.

"Uma coisa que é importante, que não pode passar despercebida, é o simbolismo desta reunião aqui. É a quantidade de lideranças que nós temos aqui, do Brasil inteiro. Para quem duvida que esse grupo vai estar unido no ano que vem, eu digo para vocês: esse grupo estará unido." Ele mantém o mesmo discurso desde então.

Bolsonaristas radicais criticam o movimento. Na avaliação de um integrante do grupo, o governador mira atrair o eleitorado de Bolsonaro, mas sem se comprometer com as pautas mais caras a eles, como a anistia aos acusados de envolvimento na tentativa de golpe e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, que não são prioridade do mercado financeiro.

Tarcísio nunca respondeu a nenhuma das diversas críticas públicas que já recebeu de bolsonaristas. Confrontado com as mensagens expostas pela Polícia Federal na última quarta-feira (20), em que o ambiente de desconfiança e desrespeito entre Eduardo, o pai, Tarcísio e o pastor Silas Malafaia foi exposto, o governador manteve a estratégia.

"Não vou comentar uma conversa privada de pai para filho. É uma questão que só interessa aos dois. E eu não sei nem por que essas conversas foram divulgadas", disse, na tarde de quinta-feira.

No início da semana, ele já havia deixado sem resposta o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL), que disse que "governadores democráticos" tinham comportamento "desumano, sujo, oportunista e canalha", em uma crítica às movimentações de Tarcísio e de Romeu Zema (MG), que havia lançado, no dia anterior, sua pré-candidatura presidencial.

O governador não admite publicamente a intenção de disputar a Presidência e diz que busca a reeleição. Um aliado de Tarcísio disse que o cenário turbulento recente deu fôlego a essa alternativa, mas que o governador se mexe para manter-se na preferência dos dirigentes partidários e de diferentes agentes do mercado.

Outro aliado pondera que, independentemente do cargo que Tarcísio disputar em 2026, ele não pode deixar de atender aos chamados -como o jantar promovido por Rueda na terça (19)-, porque o campo político precisa passar a imagem de união para derrotar Lula nas urnas.

Para o círculo mais próximo de Tarcísio, contudo, a avaliação é que o cenário ainda é o mesmo de antes da crise mais recente: é Bolsonaro quem decidirá se o governador disputará ou não a Presidência.

Na última sexta-feira (22), o governador se reuniu com a maioria de seu secretariado e prefeitos da região de Marília, no interior, para anunciar um pacote de investimentos na área, forte na indústria alimentícia e na pecuária.

Em uma agenda típica de governador em pré-campanha pela reeleição, ele fez uma série de acenos aos governantes municipais, vitais para a abertura de palanques locais.

"A gente vai trabalhar para que os mandatos de vocês sejam os melhores possíveis, para que vocês possam fazer muita entrega, e a gente quer estar participando, celebrando cada vitória com cada um de vocês", disse.