Terras Raras na Bahia: Potencial brasileiro na mira de potências globais

Publicado em 15/08/2025 às 03:03:43
Terras Raras na Bahia: Potencial brasileiro na mira de potências globais

A disputa global por "terras raras" – elementos essenciais para tecnologias que vão de celulares a carros elétricos – reacende o debate sobre o potencial brasileiro. O Brasil figura como o segundo país com maiores reservas desses minerais no mundo, mas a exploração, em grande parte, é realizada por outros países.

Na Bahia, a situação se repete. O interior do estado, com reservas concentradas em municípios como Belmonte, Jequié, Ubaíra, Jiquiriçá e Prado, tem atraído o interesse de empresas estrangeiras, sobretudo do Canadá, Austrália e Estados Unidos. A exploração ocorre em depósitos de monazita, encontrados em minerais pesados nas praias do Extremo Sul Baiano, como na região de Prado e Alcobaça.

As "terras raras" compõem um grupo de 17 elementos químicos, incluindo lantanídeos, escândio e ítrio. Apesar do nome, não são necessariamente escassos, mas sua viabilidade econômica de exploração reside em altas concentrações, um desafio técnico.

"Apesar do nome, Terras Raras não são assim tão raras [no nosso estado]. O problema é que estão, na maioria das vezes, dispersas na crosta terrestre e exigem processos sofisticados para separação e purificação", explica o professor Jorge Menezes, líder do Grupo de Materiais Fotônicos da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia).

Enquanto a China lidera a produção mundial com mais de 270 mil toneladas em 2024, o Brasil, apesar de deter cerca de 21 milhões de toneladas em reservas, produziu apenas 20 toneladas no mesmo ano, segundo dados do U.S Geology Survey 2024.

O professor Jorge Menezes aponta que os benefícios para a Bahia seriam significativos se o estado aprimorasse sua estrutura, indo além da exportação do minério bruto. "A Bahia pode e deve pensar em toda a cadeia: da prospecção ao produto final. Isso inclui produção de ímãs, dispositivos fotônicos, motores elétricos e outros materiais estratégicos", defende o pesquisador.

**Minerais Críticos vs. Estratégicos**
É fundamental distinguir "minerais críticos" de "minerais estratégicos". Os primeiros são cruciais para setores como tecnologia e defesa, apresentando alto risco de escassez devido à concentração de produção e dificuldade de substituição (ex: cobalto, tungstênio). Já os estratégicos são definidos pelo Estado como vitais para a soberania e desenvolvimento industrial.

As terras raras se encaixam em ambas as categorias no Brasil, sendo centrais em disputas econômicas globais e representando uma oportunidade para autonomia tecnológica.

A UFRB, através do grupo do professor Menezes, tem focado em pesquisa aplicada para o desenvolvimento de sensores inteligentes e dispositivos ópticos com materiais sustentáveis. Projetos em andamento incluem nanoceluloses dopadas com európio para sensores e embalagens, e filmes finos luminescentes para dispositivos ópticos, produzidos com técnicas de baixo custo.

O objetivo, segundo o professor, é claro: "transformar conhecimento científico em desenvolvimento econômico e social. A Bahia pode ser protagonista, com tecnologia própria, formação de especialistas e fortalecimento de sua cadeia produtiva."