Torres nega omissão no 8 de janeiro e afirma que nunca discutiu sobre a minuta do golpe: "cheio de erro de português"

Publicado em 10/06/2025 às 15:34:50
Torres nega omissão no 8 de janeiro e afirma que nunca discutiu sobre a minuta do golpe: "cheio de erro de português"

Em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, negou que o Ministério da Justiça tivesse em sua posse qualquer evidência técnica de fraudes nas urnas eletrônicas após as eleições de 2022. Ele atribuiu os ataques de 8 de janeiro de 2023 a uma "falha muito grave no protocolo de segurança".

Questionado pelo ministro Alexandre de Moraes sobre as alegações de fraude no sistema eleitoral, Torres afirmou que a pasta da Justiça não dispunha de estrutura técnica para analisar as urnas. Sobre a participação em uma live com o então presidente Jair Bolsonaro, ele disse ter lido apenas "destaques" preparados por sua equipe, sem embasamento concreto. "Tecnicamente falando, não temos nada que aponte fraude nas urnas. Nunca chegou essa notícia até mim", declarou.

O ex-ministro reconheceu ter mencionado "indícios de hackeamento" em uma reunião ministerial, mas esclareceu que se referia a propostas de melhorias no sistema, não a provas de irregularidades. Ao ser confrontado por Moraes, que destacou o termo "indício" como "início de provas", Torres reiterou: "Exatamente, eu, ministro, não tinha".

Anderson Torres também mencionou dificuldades em sua defesa devido à perda de um celular nos Estados Unidos, onde estava com a família quando foi preso em janeiro de 2023. Ele negou veementemente que o aparelho tenha sido extraviado intencionalmente para impedir acesso de investigadores da Polícia Federal aos dados. "Ali tinha muita coisa que me ajudaria, as mensagens que mandei desesperado para o meu adjunto", disse, alegando ter ficado "transtornado" com o episódio.

Na condição de secretário de Segurança do Distrito Federal à época dos ataques às sedes dos Três Poderes, Torres negou omissão e atribuiu o ocorrido a uma falha operacional. "Houve uma falha muito grave no cumprimento do protocolo [...]. Do jeito que eu deixei o DF, era impensável que acontecesse o que aconteceu", afirmou. Ele relatou ter ficado "desesperado" ao ver as imagens e ter contatado autoridades locais para questionar as razões da falha.

Sobre a "minuta do golpe", encontrada em sua residência, Torres disse ter sido uma "surpresa" a apreensão do documento. Ele alegou que o texto chegou ao seu gabinete no Ministério da Justiça, organizado por sua assessoria, em um envelope, e acabou indo parar em sua casa por "fatalidade". "Eu nunca tratei isso com ninguém [...], eu nunca discuti esse assunto, eu nunca trouxe isso à tona [...]. Era para ter sido destruída há muito tempo, eu nunca trabalhei isso", explicou, descrevendo o documento como "muito mal escrito, cheio de erros de português, de concordâncias", e acrescentando: "não é da minha lavra, não sei quem fez, não sei quem mandou fazer e nunca discuti esse tipo de assunto".