Vacinas em estudo contra o zika vírus esbarram em desafios na fase clínica

Publicado em 28/04/2025 às 14:23:32
Vacinas em estudo contra o zika vírus esbarram em desafios na fase clínica

Cientistas brasileiros buscam uma vacina duradoura contra o zika vírus, uma doença para a qual ainda não existem tratamentos ou imunizantes aprovados. Duas vacinas experimentais, desenvolvidas por pesquisadores da USP/Fiocruz e do Instituto Butantan, enfrentam desafios para avançar aos testes clínicos em humanos.

A vacina de DNA da USP/Fiocruz, eficaz em testes com camundongos, induz resposta imune contra o vírus. A equipe agora investiga se o imunizante protege os fetos de fêmeas vacinadas, avaliando peso, medidas cranianas e a transferência de anticorpos da mãe para a prole. Resultados preliminares são promissores, mas a publicação dos dados está prevista para o próximo ano.

Já o Butantan desenvolve uma vacina de vírus inativado, considerada segura para gestantes, principal público-alvo. Testes em animais demonstraram a produção de anticorpos neutralizantes e a estabilidade da formulação sob refrigeração, facilitando o armazenamento e distribuição. O próximo passo são os estudos de toxicidade, com a expectativa de iniciar ensaios clínicos em 2025.

Apesar dos avanços, os pesquisadores enfrentam obstáculos financeiros e científicos. A biomédica Franciane Teixeira, da USP, relata a falta de interesse de empresas farmacêuticas, já que a Zika é uma doença negligenciada, diferente da Covid-19. A validação da eficácia em humanos também é dificultada pela baixa circulação atual do vírus.

Renato Mancini Astray, do Butantan, aponta que a fase 3 dos estudos clínicos é um grande desafio, especialmente pela baixa incidência da doença e pela dificuldade em medir a eficácia em grávidas, que apresentam sintomas brandos.

O infectologista Antonio Bandeira ressalta a importância de investimentos governamentais e de outras instituições no desenvolvimento da vacina, mesmo que não seja lucrativa. Ele enfatiza que o risco de efeitos catastróficos em bebês de gestantes infectadas persiste, e a imunização é a única forma de evitar esse perigo.

Um desafio adicional é a semelhança entre o zika vírus e os sorotipos da dengue, o que pode causar reações cruzadas e agravar uma possível segunda infecção por dengue. Apesar das dificuldades, os cientistas brasileiros seguem empenhados na busca por uma vacina que proteja a população contra o zika vírus.