Agro Brasileiro em Alerta: Sanções dos EUA por Compras da Rússia Podem Afetar Fertilizantes e Combustíveis

O agronegócio brasileiro, já sob a mira da taxa de 50% imposta pelos Estados Unidos, teme que novas retaliações americanas atinjam um de seus pontos mais vulneráveis: o suprimento de fertilizantes. Representantes do setor e da bancada ruralista alertaram o Itamaraty sobre possíveis sanções a partir desta sexta-feira (8), em decorrência das relações comerciais do Brasil com a Rússia, principal fornecedor de fertilizantes para o país.
O Brasil também está sob escrutínio dos EUA pela importação de diesel, com mais de 60% do combustível adquirido neste ano proveniente da Rússia. A preocupação geral no agronegócio é que a pressão internacional dos EUA sobre a Rússia, incluindo ameaças de tarifas secundárias de 100% sobre países que continuam comprando bens russos em caso de não resolução da guerra com a Ucrânia, possa impactar negativamente as transações bilaterais.
Essas tarifas, que poderiam incluir penalidades indiretas a compradores de petróleo, gás, urânio e fertilizantes russos, foram confirmadas por autoridades americanas e da OTAN. O presidente dos EUA, Donald Trump, indicou que as sanções podem ser próximas de 100%, embora a decisão final sobre o petróleo seja anunciada após reuniões nesta quarta-feira (6).
A retaliação americana não seria direta sobre os fertilizantes importados, mas sim sobre outros produtos brasileiros exportados para os EUA, configurando uma pressão econômica indireta. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já alertou o governo brasileiro sobre o risco de proibições de compras de produtos brasileiros pelos EUA.
A dependência do Brasil em fertilizantes importados é crônica, com mais de 90% do insumo vindo do exterior. A Rússia se destaca como o principal fornecedor, respondendo por 30% das importações brasileiras, seguida por China, Canadá e Estados Unidos. Soja, milho e cana-de-açúcar são os maiores consumidores de fertilizantes no país.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) revelam um aumento constante na dependência de fertilizantes russos. Em 2015, o Brasil importou 3,7 milhões de toneladas da Rússia; em 2023, esse número chegou a 9,3 milhões de toneladas, com projeção de que 2025 estabeleça um novo recorde histórico. A escalada nas importações russas foi impulsionada pela recuperação pós-pandemia e, mais recentemente, pela busca de segurança de suprimento em um mercado global volátil devido à guerra na Ucrânia.
Uma delegação de senadores brasileiros que esteve nos EUA relatou que o incômodo americano está mais focado no volume de diesel importado pelo Brasil da Rússia, que é o segundo item mais importado pelo país, atrás apenas dos fertilizantes.