Após denúncias de atraso, Sesab confirma medidas emergenciais para "mitigar" espera para diálise ambulatorial na Bahia

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou que adotará medidas emergenciais para enfrentar os desafios no tratamento de hemodiálise ambulatorial no estado. A informação foi divulgada pela pasta em nota, detalhando ações planejadas para mitigar a crise no acesso ao tratamento.
Entre as medidas emergenciais estão a expansão de turnos extras em unidades conveniadas, o incentivo à modalidade de diálise peritoneal domiciliar e a realocação de pacientes para regiões com maior disponibilidade de vagas.
A decisão da Sesab surge após a Sociedade Brasileira de Nefrologia Regional Bahia (SBN Bahia) protocolar um ofício solicitando uma audiência com o governador Jerônimo Rodrigues. A entidade pleiteava a implementação de ações concretas para garantir o acesso digno ao tratamento dialítico na Bahia.
Segundo a SBN Bahia, o estado enfrentava uma crise que colocava pacientes em risco de desassistência. À época do comunicado, a entidade relatou que mais de cem pacientes com condições de alta permaneciam internados em hospitais públicos baianos, aguardando uma vaga para iniciar o tratamento dialítico.
Em resposta às preocupações da sociedade médica, a Sesab reconheceu a existência da problemática e das dificuldades relatadas nas unidades de saúde.
Um paciente transplantado com doença renal, que preferiu não se identificar, também denunciou a gravidade da situação. Ele relatou que pacientes internados à espera de tratamento hesitam em receber alta por medo de não encontrar vaga para a hemodiálise em outras unidades.
"A procura é muito grande e a oferta de saúde e de tratamento é muito pequena. Pacientes ficam no hospital, presos, pois acreditam que, se sair, vão morrer, que não tem lugar para fazer hemodiálise", desabafou o paciente ao BN. Ele acrescentou que, para garantir a vaga, muitos se sujeitam a permanecer internados, classificando a situação como "muito grave" e urgente.
O paciente também destacou a dificuldade no acompanhamento pós-transplante. Segundo ele, apenas o Hospital Geral Roberto Santos e o Hospital Ana Nery prestam assistência a transplantados em Salvador. Pacientes transplantados em outras instituições, como o Hospital São Rafael, e que utilizam planos como o Planserv, enfrentariam dificuldade de atendimento em outros locais e precisariam recorrer a consultórios particulares.
Ele criticou a falta de acesso ao acompanhamento pós-transplante pelo SUS na Bahia, mesmo com o sistema liberando recursos para esse fim. "Nós vamos a um consultório médico para receber atendimento de pós-transplante. É a pior coisa que está acontecendo, porque o SUS paga, manda dinheiro para acompanhamento do pós-transplante aqui na Bahia e nós não estamos tendo essa retratação de acompanhamento pelo sistema”, afirmou.
Há relatos de transplantados sem acompanhamento há mais de quatro anos, desde o fim do convênio com o Hospital São Rafael. A dificuldade se agrava porque pacientes transplantados necessitam de atendimento especializado, não podendo ser atendidos em unidades básicas ou policlínicas sem nefrologistas.
Outro ponto levantado foi a situação de pacientes internados no Hospital Alayde Costa, centro de referência em nefrologia, que aguardam vagas e poderiam estar em casa recebendo o tratamento dialítico ambulatorial ou domiciliar.
Em nota, a Sesab reiterou que "tem atuado de forma firme para garantir o acesso da população ao tratamento de hemodiálise ambulatorial, diante do aumento expressivo da demanda em diversas regiões do estado". O órgão informou que a rede conveniada ao SUS opera perto do limite, especialmente na Região Metropolitana de Salvador, onde as clínicas atingiram 100% de ocupação.
Sobre investimentos, a Sesab mencionou ações para ampliar a rede. Em 2023, o governo estadual lançou um programa de cofinanciamento que, segundo a pasta, permitiu o aumento do número de sessões, eliminando filas de espera e promovendo a desospitalização, além de garantir um acréscimo de 25% nos repasses às clínicas.
No entanto, a secretaria atribuiu parte da responsabilidade pela ampliação da rede aos municípios. A Sesab explicou que, por ser um procedimento de média complexidade, a habilitação e autorização de novos serviços cabe às prefeituras. A pasta citou Salvador como exemplo, onde clínicas interessadas encontrariam "entraves impostos pela própria gestão municipal", que não teria autorizado a abertura de novas unidades apesar da demanda. A Sesab também registrou atrasos nos repasses da prefeitura às clínicas credenciadas em Salvador, mesmo com os recursos federais sendo transferidos em dia.