Arlindo Cruz: O Samba em Luto Pelo Ícone que Deixou um Legado Musical

O samba brasileiro amanheceu em silêncio nesta sexta-feira (8) com a triste notícia da morte de Arlindo Cruz, aos 66 anos. Um dos pilares do gênero, o cantor e compositor nos deixou após uma batalha de oito anos contra as sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico, sofrido em março de 2017. A despedida dos palcos, que aconteceu de forma inesperada antes do tempo, foi marcada pela melancolia.
Arlindo Cruz, carioca, deixou um legado inestimável para a música brasileira. A confirmação de seu falecimento pelos familiares marca o fim de uma era para o samba e o pagode. Sua última apresentação, realizada em 14 de março de 2017, um pouco antes do AVC, o impediu de realizar uma apresentação aguardada em Salvador, no Festival Vozes do Brasil, que aconteceria na Concha Acústica.
Após o AVC, Arlindo Cruz enfrentou um longo período de internação, primeiramente na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, e posteriormente com home care em sua residência. Apesar de ter apresentado melhora em sua mobilidade e capacidade de alimentação, permitindo a recuperação de movimentos na boca e a expressão de sentimentos, o quadro do artista regrediu. Uma das últimas atualizações sobre sua saúde, após uma internação por pneumonia e bactéria resistente, revelou que o cantor já não respondia mais a estímulos, vivendo 'bem distante, dentro do mundinho dele', como descreveu sua esposa, Babi Cruz, em seu livro.
**Um Legado Musical Riquíssimo**
Nascido em 1961, Arlindo Cruz iniciou sua trajetória musical nos anos 80, no lendário Cacique de Ramos, ao lado de nomes como Jorge Aragão, Beto Sem Braço e Almir Guineto. Sua formação musical incluiu estudos de solfejo e violão clássico. Arlindo fez parte do Grupo Fundo de Quintal até 1993, onde, como substituto de Jorge Aragão, tocava banjo-cavaquinho e foi fundamental na composição de sucessos que moldaram o pagode moderno.
Em sua carreira solo, iniciada em 1993, Arlindo Cruz consolidou sua posição como um dos maiores compositores do Brasil. Seu trabalho em parceria com Sombrinha resultou em sucessos como "Da Música" (1996), e o DVD "MTV ao Vivo: Arlindo Cruz" (2009) alcançou a marca de mais de 100 mil cópias vendidas.
A "caneta de ouro" Arlindo Cruz registrou 795 obras junto ao Ecad, com aproximadamente 1797 gravações realizadas por artistas renomados como Zeca Pagodinho, Maria Rita e Beth Carvalho. Sua excelência artística lhe rendeu cinco indicações ao Grammy Latino (quatro por álbum de samba/pagode e uma por canção em português) e 26 prêmios, incluindo o Prêmio da Música Brasileira e o Estandarte de Ouro.
Em 2025, a vida e obra de Arlindo Cruz foram celebradas na biografia 'O Sambista Perfeito', escrita por Marcos Salles, que mergulhou em sua infância, carreira e questões pessoais, incluindo o uso de drogas, tema abordado após o AVC.