Cabeleireira trans brasileira fica presa em ala masculina em Guantánamo

Publicado em 01/05/2025 às 23:27:13
Cabeleireira trans brasileira fica presa em ala masculina em Guantánamo

Uma cabeleireira transgênero de Minas Gerais, identificada como Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, de 28 anos, relata ter sido presa e mantida em condições precárias após tentar entrar nos Estados Unidos. Segundo seu relato, ela foi detida por agentes de imigração e enviada para a prisão de Guantánamo, em Cuba, notória por abrigar acusados de terrorismo, sendo alocada em uma ala masculina.

Gonçalves afirma ter alertado repetidamente as autoridades sobre sua identidade de gênero e o desconforto e insegurança que sentia ao ser mantida em um ambiente exclusivamente masculino. Ela descreve celas com beliches compartilhadas e banheiros sem privacidade, além de denúncias de assédio ignoradas pelos responsáveis. A brasileira também alega ter sido impedida de contatar sua família ou um advogado.

A prisão da cabeleireira em Guantánamo se insere em um contexto maior, onde, desde o início do segundo mandato de Donald Trump, pelo menos 177 imigrantes em situação irregular foram enviados para a base militar, geralmente utilizada para casos de terrorismo.

Gonçalves cruzou a fronteira do México para os EUA em fevereiro, sendo detida no Texas. Ela alega ter pago R$ 70 mil a um coiote e buscava asilo, alegando perseguição por ser uma mulher trans. Inicialmente detida no Novo México em uma unidade masculina, ela relatou assédio constante. Seu depoimento, traduzido para o inglês, foi incluído em uma ação da União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e do Centro para Direitos Constitucionais (CCR) contra o governo Trump, buscando impedir a transferência de outros imigrantes para Guantánamo.

Após nove dias no Novo México, Gonçalves foi transferida para Guantánamo em um voo militar, algemada. Descreve o desespero ao perceber que estava sendo levada para Cuba. Após cinco dias, foi transferida para Miami e, posteriormente, para um centro de detenção na Louisiana. Lá, após insistir para não ser alojada com homens, foi mantida em isolamento por 17 dias, com acesso limitado a banhos de sol e alimentação insuficiente. No entanto, conseguiu contato com sua irmã através de um tablet.

Deportada para o Brasil em abril, Gonçalves retornou para Alvarenga (MG), sua cidade natal. Ela relata ter sido algemada de forma tão severa que sofreu inchaço nas pernas por dez dias. Agora, busca quitar as dívidas contraídas para pagar o coiote e realizar seus sonhos de construir um salão de beleza e uma casa para seus pais.

Gonçalves expressa sua indignação por ter sido presa sem ter cometido crimes e afirma que alguns funcionários da prisão alegaram que o governo americano não reconhecia pessoas trans. Ela apela para que Trump, como pai, compreenda o sofrimento que ela e sua família enfrentaram.