Dino lê no STF mensagem com ofensas e ameaças em que cidadão o chamou de "canalha" e de "rocambole do inferno"

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, revelou em sessão da Corte ter sido alvo de mensagens ofensivas recebidas pela Ouvidoria do tribunal. Entre os adjetivos pejorativos, um remetente o chamou de "canalha" e "rocambole do inferno".
Durante a sessão, Flávio Dino citou o conteúdo da mensagem de forma irônica, provocando risos entre os colegas. "'O cidadão diz que eu sou um canalha. Aí ele me chama – ministro Alexandre, para não lhe deixar sozinho com os apeninos que achamos jocosos – de rocambole do inferno. É esse que vos fala'", relatou o ministro. Ele acrescentou, com bom humor: "'Eu achei muito criativo, até poético. Vou perguntar para minha esposa o que ela acha. Ela vai dizer ‘você é meu rocambole, nunca do inferno’'".
A referência ao ministro Alexandre de Moraes aludiu a uma situação semelhante ocorrida na sessão da última terça-feira (20), quando Moraes ironizou apelidos ("cabeça de ovo", "professora") que lhe foram atribuídos por militares investigados pela suposta tentativa de golpe de Estado. Moraes fez o comentário durante o julgamento na Primeira Turma que tornou réus mais dez denunciados pela Procuradoria-Geral da República.
Flávio Dino prosseguiu, citando outro trecho da mensagem enviada à Ouvidoria. O texto o acusava de ter participado, em 1979, de manifestações pela anistia de "ladrões de banco, assassinos", mencionando também Gilberto Gil, Caetano Veloso e Dilma Rousseff. O ministro rebateu a acusação com ironia: "'Eu tinha 11 anos. Posso garantir que eu estava jogando bola, brincando de carrinho'".
Em sua fala, na sessão desta quinta-feira (22), o ministro destacou a gravidade das ameaças e a potencial transição de manifestações de ódio online para ações no mundo real. Ele leu outro trecho da mensagem recebida: "'Um cara como você tem que apanhar de murro por cima da cara, arrancar dente por dente da tua boca. É na porrada, meu. Bastam 100 homens aí em Brasília, invadem o STF e expulsam'", relatou Dino, removendo palavras de baixo calão por ele consideradas ofensivas ao decoro.
Flávio Dino explicou que decidiu ler a mensagem em plenário para demonstrar o que vê como o aumento do cultivo do ódio no país, alcançando "uma escala criminosa". Ele concluiu que "As caixas de comentários das redes sociais ganham densidade quando penetram na mente humana e se transformam em força material".
Os comentários do ministro foram feitos no contexto do julgamento de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) apresentadas pela PGR contra leis que criaram cargos comissionados em tribunais de contas estaduais.