Dólar e Bolsa caem após ataques dos EUA ao Irã

A decisão dos Estados Unidos de se juntar a Israel no ataque a instalações nucleares iranianas no fim de semana levou a uma queda do dólar e da Bolsa brasileira nesta segunda-feira (23). Contudo, os movimentos mais contidos do mercado sugerem uma cautela dos investidores, que avaliam uma possível retaliação iraniana como limitada.
Às 11h18, o dólar americano recuava 0,23%, cotado a R$ 5,513, divergindo da alta de 0,15% no índice DXY, que mede a força da divisa frente a outras seis moedas, alcançando 99,29. No mesmo horário, a Bolsa brasileira perdia 0,44%, aos 136.510 pontos. Na sexta-feira anterior, o dólar havia subido 0,48% para R$ 5,526, enquanto a Bolsa sofreu uma queda de 1,15%, fechando em 137.115 pontos, influenciada pela decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 15% ao ano e pela escalada de tensões no Oriente Médio.
O conflito entre Israel e Irã, iniciado em 13 de junho com o objetivo israelense de impedir o desenvolvimento nuclear iraniano, ganhou um novo capítulo com bombardeios americanos a três instalações nucleares iranianas na madrugada de sábado (21). Washington empregou sete bombardeiros B-2 e 14 bombas GBU-57, de 13,6 toneladas, utilizadas pela primeira vez em combate, com duas delas direcionadas à usina de enriquecimento de urânio de Fordow. O Irã, em resposta, declarou que "reserva todas as opções para defender sua soberania", indicando intenção de retaliar. No domingo, Israel voltou a atacar alvos militares no oeste do Irã, incluindo locais de lançamento e armazenamento de mísseis, e na segunda-feira promoveu um ataque contra instituições do aparelho repressivo iraniano, bombardeando novamente Fordow.
Apesar da escalada, os mercados apresentaram reações relativamente contidas. Analistas como Eduardo Moutinho, do Ebury Bank, e Alison Correia, da Dom Investimentos, apontam para uma esperança de desanuviamento por parte dos investidores, que podem estar aliviados com a resposta limitada do Irã e a natureza pontual do ataque americano, evitando uma guerra total. A expectativa é de que não haja sequências mais agressivas, ou que o mercado ainda esteja assimilando os eventos do fim de semana.
A escalada das tensões no Oriente Médio adiciona novas incertezas às perspectivas de inflação e atividade econômica globais, com receios de impacto nos mercados cambiais, de ações e nos preços do petróleo. O Irã ameaçou fechar o Estreito de Ormuz, rota essencial para cerca de 20% do petróleo e gás liquefeito mundial, o que poderia afetar significativamente os preços da energia e a inflação global. Os preços do petróleo Brent e WTI apresentaram volatilidade na sessão de segunda-feira, com os futuros do Brent subindo 0,84% para US$ 77,70 e o WTI avançando cerca de 1% para US$ 74,50, atingindo máximas de cinco meses antes de iniciar uma queda. Bolsas na Europa e Ásia, com exceção da China, registraram quedas, enquanto os futuros nos EUA mantinham-se próximos da estabilidade.
Em Wall Street, os principais índices abriram com pouca variação: o Dow Jones perdia 0,07%, o S&P 500 ganhava 0,03% e o Nasdaq Composite recuava 0,10%.
Além do cenário no Oriente Médio, os investidores aguardam dados de inflação e pronunciamentos de autoridades de bancos centrais. No Brasil, serão divulgados a ata da reunião do BC na terça-feira e o IPCA-15 de junho na quinta-feira. O Banco Central brasileiro elevou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual na quarta-feira anterior, a 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006, após um ciclo de sete aumentos consecutivos desde setembro do ano passado. A decisão, que surpreendeu parte do mercado, oferece um diferencial de juros atrativo para o Brasil em um contexto de cortes ou manutenção de taxas por outros bancos centrais.
Nos Estados Unidos, a atenção se volta para os depoimentos do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, ao Congresso nos dias terça e quarta-feira, e para os dados do índice PCE de maio, o indicador de inflação preferido do Fed, na sexta-feira. O Fed manteve os juros na faixa de 4,25% a 4,50% pela quarta vez consecutiva em dezembro do ano passado, com as perspectivas econômicas americanas permanecendo nebulosas, em parte devido à incerteza gerada pela política tarifária do governo Trump, cujas negociações com parceiros como Japão e União Europeia podem movimentar os mercados.