Estudo mostra que tirzepatida é mais eficaz para perda de peso do que semaglutida

Uma pesquisa publicada neste domingo (11) no New England Journal of Medicine indicou que a tirzepatida, presente nos medicamentos Mounjaro e Zepbound, demonstrou maior eficácia na redução de peso em comparação com a semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy, em adultos com obesidade que não possuem diabetes.

O estudo acompanhou 751 adultos obesos, sem histórico de diabetes, por um período de 72 semanas entre 2023 e 2024. Os participantes foram divididos em dois grupos, recebendo injeções semanais de tirzepatida ou semaglutida, ajustadas até a dose máxima tolerada por cada indivíduo. O foco principal da análise foi comparar a perda de peso obtida por cada grupo, além de avaliar outros impactos na saúde e eventuais efeitos colaterais dos tratamentos.

Ao final das 72 semanas, os resultados mostraram que os pacientes tratados com tirzepatida alcançaram uma perda média de 20,2% do peso corporal inicial, enquanto o grupo da semaglutida registrou uma perda média de 13,7%.

Os dados do estudo revelaram ainda que 65% dos usuários de tirzepatida perderam 15% ou mais do peso corporal, um resultado obtido por apenas 40% dos tratados com semaglutida. Em perdas ainda mais significativas, aproximadamente 20% dos pacientes com tirzepatida atingiram uma redução de 30% do peso, cifra alcançada por somente 7% no grupo da semaglutida.

Na análise da circunferência abdominal, um indicador relevante para riscos cardiometabólicos, a tirzepatida também mostrou superioridade, com uma redução média de 18,4 cm, contra 13,0 cm observados com a semaglutida.

Ambos os tratamentos foram benéficos na melhoria de parâmetros como pressão arterial, níveis de glicose no sangue e lipídios, com os benefícios mais acentuados naqueles pacientes que obtiveram as maiores perdas de peso.

Os efeitos adversos mais comuns foram de natureza gastrointestinal, como náuseas, constipação e diarreia, sendo similares entre os dois medicamentos. No entanto, a tirzepatida levou a uma menor taxa de interrupção do tratamento devido a esses efeitos (6,1% dos pacientes), comparada a 8% no grupo da semaglutida. Em contrapartida, reações no local da injeção foram mais frequentes com a tirzepatida (8,6%) do que com a semaglutida (0,3%).

O cenário de tratamento para diabetes e obesidade tem sido transformado nos últimos anos com o surgimento de medicamentos que atuam nos receptores do GLP-1, um hormônio crucial no controle do apetite e metabolismo. A tirzepatida se diferencia da semaglutida por também modular os receptores de GIP, outro hormônio envolvido na regulação do peso.

Fabricado pela Eli Lilly, o Mounjaro é um agonista de GLP-1 que, assim como o Ozempic e o Wegovy (semaglutida), ganhou destaque por sua eficácia na perda de peso. Nos Estados Unidos, o Mounjaro é aprovado também para controle de peso e obesidade.

No Brasil, a prescrição do Mounjaro para fins de emagrecimento ocorre em uso off-label, ou seja, fora da indicação primária da bula, que é o tratamento do diabetes tipo 2. O medicamento Zepbound ainda não está disponível no mercado brasileiro.

Segundo o endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade) e presidente eleito da WOF (Federação Mundial de Obesidade), este é o primeiro estudo de grande porte a comparar diretamente a eficácia de duas importantes medicações para obesidade. "Por muito tempo, os estudos para obesidade comparavam a medicação a placebo, então todas as comparações eram indiretas, com muitas críticas", afirma Halpern, destacando a importância de estudos comparativos diretos para avaliar a potência crescente dos medicamentos e guiar a escolha terapêutica.

Essa abordagem comparativa direta facilita a individualização do tratamento. "Alguns pacientes vão perder mais peso, e ter medicamentos mais potentes vão ajudá-los nisso e a melhorar outras comorbidades, e outros vão precisar de perdas menores, e a decisão do tratamento vai ser baseada nesses estudos e em acessibilidade, claro", explica o médico.

O Mounjaro (tirzepatida) começou a ser comercializado no Brasil na última segunda-feira (5), em um movimento descrito pelas farmácias como "pré-venda", embora a previsão inicial de venda fosse 7 de junho.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ressalta que a propaganda de medicamentos sujeitos a prescrição médica (tarja vermelha), como é o caso do Mounjaro, é restrita aos profissionais de saúde prescritores, sendo vedada a publicidade direcionada ao público em geral.