Guerra Israel-Irã pode sair de controle, diz ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que o conflito entre Israel e o Irã tem o potencial de "acender um fogo que ninguém poderá controlar", clamando pela necessidade de evitar tal cenário enquanto a guerra se aproxima de sua segunda semana. As movimentações diplomáticas se intensificam após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conceder um prazo de até duas semanas para decidir sobre um possível envolvimento militar conjunto com Israel contra o Irã. Guterres, em um apelo pela paz, citou a clássica canção de John Lennon.
Em Genebra, os chanceleres da Alemanha, França e Reino Unido se reuniram com seu homólogo iraniano, Abbas Araghchi, para discutir a crise. A delegação europeia carrega uma mensagem de abertura de Washington, que anteriormente ameaçou o líder iraniano e aumentou a pressão militar no Oriente Médio, propostas que Teerã ainda não aceitou. O presidente francês, Emmanuel Macron, endossou a proposta americana, que inclui o enriquecimento zero de urânio pelo Irã, a limitação de mísseis balísticos e o fim do financiamento a grupos terroristas que visam Israel.
O Irã se recusa a abandonar sua capacidade de enriquecimento de urânio, argumentando que é essencial para diversas aplicações, desde radiofármacos até combustível para submarinos e, potencialmente, armas nucleares. Entretanto, especialistas apontam que um programa civil pacífico pode ser mantido sem enriquecimento em centrífugas, optando pela compra do material de aliados como a Rússia. Araghchi, antes do encontro, declarou que Teerã não poderia negociar enquanto estivesse sob ataque israelense, indicando a intensa pressão sobre o regime. A continuidade da campanha militar israelense, iniciada há pouco mais de uma semana, é vista como improvável de ser suspensa pelo governo de Binyamin Netanyahu.
A operação israelense, com objetivos nominais de eliminar o programa nuclear iraniano e outras ameaças, resultou na morte de dezenas de militares iranianos e na neutralização de parte significativa das defesas antiaéreas do país, além de prejudicar sua capacidade de lançar mísseis contra Israel. Subjacente a essas ações, segundo analistas, há o desejo de desestabilizar a teocracia iraniana, embora sem um plano de sucessão definido. Netanyahu negou tal objetivo, mas admitiu o desdobramento como uma consequência. Seu ministro da Defesa, Israel Katz, reiterou que os ataques visam "desestabilizar o regime".
Embora os ataques tenham diminuído em volume, com um número significativamente menor de lançamentos em comparação com os primeiros dias de retaliação, eles continuam a ter impacto. O Irã passou a mirar áreas menos protegidas, como hospitais e regiões residenciais, em vez de se concentrar apenas em centros estratégicos como Tel Aviv. Um hospital em Beersheba foi atingido, e a cidade foi alvo novamente, deixando feridos. Haifa também registrou feridos em um ataque de míssil. Israel reporta um número considerável de civis mortos, feridos e evacuados, embora os dados possam estar desatualizados. Relatórios de ONGs indicam um número elevado de mortos e feridos no lado iraniano.
A continuidade dos ataques israelenses a instalações militares segue em curso, mas os bombardeios a alvos do programa nuclear têm gerado maior controvérsia. O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, fez um apelo por "contenção máxima" a Israel, alertando que ataques a instalações nucleares podem liberar radiação com consequências graves. A advertência se estende ao Irã, que poderia ter como alvo locais como Dimona, onde Israel supostamente armazena armas nucleares. Grossi está sob escrutínio desde a divulgação de um relatório pré-invasão que indicava violações do Irã em suas obrigações de transparência no Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), alegações usadas por Israel para justificar seus ataques. O Irã ameaçou deixar o TNP e criticou a alegada parcialidade de Grossi.
A Rússia, por sua vez, relembrou Israel sobre o pessoal russo trabalhando na usina nuclear de Bushehr e advertiu sobre o risco de uma "catástrofe sem igual" em caso de ataques a instalações nucleares civis. Após um relato israelense de ataque a Bushehr, a estatal russa Rosatom afirmou que a usina estava operando normalmente. Grossi voltou a alertar Tel Aviv sobre a possibilidade de escalada indesejada devido a comunicações imprecisas em meio ao conflito.
Neste cenário, Trump avalia suas opções, buscando um cessar-fogo que não o envolva militarmente, uma estratégia cuja eficácia em anular o programa nuclear iraniano é incerta. A pesquisa de opinião pública nos Estados Unidos indica impopularidade da ideia de envolvimento em uma nova guerra, especialmente entre eleitores que acreditaram na promessa de Trump de evitar conflitos "inúteis".