Inquérito sobre trama golpista pode ser desmembrado e atingir Michelle Bolsonaro e outros aliados

O inquérito que levou ao indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por suspeita de coação no processo sobre a trama golpista pode ser desmembrado, ampliando o alcance da investigação para figuras próximas ao ex-presidente, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O relatório final da Polícia Federal, encaminhado ao STF, sugere indícios de que os Bolsonaro tentaram interferir na ação penal que investiga a trama golpista de 2022 e 2023, com atuação do parlamentar no exterior. Os crimes investigados incluem coação, obstrução de Justiça, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e atentado à soberania.
Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo apontam que a Procuradoria-Geral da República (PGR) tem autonomia para denunciar parte ou todos os envolvidos, além de solicitar novas investigações. O pastor Silas Malafaia, investigado no inquérito, teve seu celular apreendido e passaporte cancelado por determinação do STF, sendo proibido de sair do país ou contatar os Bolsonaro. A PF indicou que o líder religioso atuou ativamente na definição de estratégias de coação, com mensagens trocadas com Jair Bolsonaro sobre ações para pressionar por anistia.
Outros investigados incluem o ex-comentarista Paulo Figueiredo, réu na ação penal sobre tentativa de golpe, e as esposas de Eduardo e Jair Bolsonaro. Michelle Bolsonaro e Heloísa Bolsonaro são apontadas pela PF como colaboradoras no esquema, auxiliando na transferência de dinheiro entre pai e filho para dissimular a origem de recursos destinados ao financiamento de atividades ilícitas do parlamentar no exterior. Fernanda Bolsonaro, esposa de Flávio Bolsonaro, também é citada no relatório por sua participação na elaboração de um pedido de asilo para o ex-presidente.
Especialistas em direito penal explicam que a PGR pode denunciar parte dos investigados e solicitar novas apurações, com potencial para responsabilizar criminalmente Michelle e Heloísa Bolsonaro por lavagem de dinheiro e tentativa de impedir o bloqueio judicial de bens, caso seja comprovada sua participação consciente. A atuação de Fernanda Bolsonaro na elaboração do pedido de asilo também pode justificar investigação, embora com menos elementos para responsabilização jurídica, segundo análise de especialistas. A participação de Silas Malafaia é considerada robusta no processo, demonstrando uma ligação forte com a família Bolsonaro.