Juiz relata pressão extrema e esgotamento em gabinete de Alexandre de Moraes no STF

Um áudio enviado em janeiro de 2023 revela que o juiz Airton Vieira, que atuou como auxiliar do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) entre 2018 e março deste ano, teria sofrido intensas pressões e atingido um "limite físico, psicológico e emocional" durante o período. A mensagem, direcionada a Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na gestão de Moraes, foi divulgada pela Coluna Fábia Capelli, do Metrópoles.
Na gravação, Vieira expressa seu desespero: "Olha, realmente a coisa está feia, viu? Eu não estou aguentando mais em termos físicos, psicológicos, emocionais. Eu não consigo dormir sossegado, eu não tenho tranquilidade, eu estou perdendo completamente a higidez mental, o pouco que eu ainda tinha, viu? Realmente a coisa está feia."
O magistrado confidenciou ter considerado antecipar seu retorno ao cargo de desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), mas decidiu permanecer no gabinete para não abandonar Moraes em um momento considerado de "maior tempestade". Contudo, ele lamentou que a "temperatura voltou a subir de forma exponencial" e que sua família estava sendo "extremamente prejudicada" pela pressão e pelo volume de exigências.
Vieira detalhou a situação, afirmando que "Pressão para tudo quanto é lado, cobrança, o que a gente fala não tem crédito, tudo para anteontem". Ele também criticou interferências em suas decisões, inclusive em audiências de custódia: "Até depois, em questões de audiência de custódia, sabe, ele vem dando palpite. Espera um pouco, né?"
Vieira deixou o gabinete de Moraes em março de 2023. A coluna tentou contato com o juiz, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.
Na última sexta-feira (8), o ministro Alexandre de Moraes negou o pedido da defesa de Eduardo Tagliaferro para ter acesso aos autos do inquérito que o investiga. Tagliaferro é acusado de violação de sigilo funcional com dano à administração pública, em decorrência de um suposto vazamento de conversas de WhatsApp com membros do gabinete de Moraes, que tratavam do bloqueio de perfis de direita em redes sociais.