Justiça russa condena mulher de 19 anos à prisão por protesto contra guerra

Publicado em 19/04/2025 às 22:04:55
Justiça russa condena mulher de 19 anos à prisão por protesto contra guerra

Um tribunal de São Petersburgo sentenciou Daria Kozireva, de 19 anos, a dois anos e oito meses em uma colônia penal, acusada de "desacreditar" as forças armadas russas. A condenação decorre de atos como colar um verso do poeta ucraniano Taras Shevchenko em um monumento na cidade, conforme relatado pelo grupo de direitos humanos OVD-Info.

O verso em questão, extraído do poema "Meu Testamento", diz: "Oh, enterrem-me, então levantem-se/E quebrem suas pesadas correntes/E reguem com o sangue dos tiranos/A liberdade que vocês conquistaram". Além disso, Kozireva enfrentou um segundo processo após descrever a guerra da Rússia na Ucrânia como "monstruosa" e "criminosa" em entrevista à Rádio Europa Livre.

A ativista já havia tido problemas com a lei, sendo detida em dezembro de 2022 por escrever "Assassinos, vocês bombardearam. Judas" em uma instalação dedicada às cidades de São Petersburgo e Mariupol. Posteriormente, foi multada e expulsa da universidade por uma publicação em uma rede social criticando a "natureza imperialista da guerra", de acordo com a Memorial, organização de direitos humanos que a considera uma prisioneira política e classifica as acusações como "absurdas" e destinadas a suprimir a oposição.

O Ministério Público havia solicitado uma pena de seis anos para Kozireva, e a defesa já anunciou que recorrerá da sentença. A diretora da Anistia Internacional para a Rússia, Natalia Zviagina, condenou o veredicto, afirmando que ele demonstra "até onde as autoridades russas irão para silenciar a oposição pacífica à guerra na Ucrânia" e que Kozireva está sendo punida por citar poesia ucraniana e se manifestar contra a guerra.

A Rússia tem um histórico de repressão à dissidência antiguerra. Segundo o OVD-Info, pelo menos 35 menores de idade enfrentaram acusações criminais por motivação política desde 2009, com a maioria dos casos (23) iniciados após a invasão da Ucrânia em 2022. Estima-se que mais de 1.500 pessoas estejam presas por motivos políticos no país, e entre o início do conflito e dezembro de 2024, 20.070 pessoas foram detidas por expressar opiniões contrárias à guerra, incluindo 9.369 por "descrédito do exército" através de postagens em redes sociais ou uso de símbolos ucranianos.