Lei da Fibromialgia: Especialista alerta para carência de atendimento especializado no SUS

A recente aprovação da Lei que reconhece pacientes com fibromialgia como pessoas com deficiência (PcD), sancionada pelo Governo Federal na última quinta-feira (24), trouxe um novo cenário para a doença. Contudo, a reumatologista Emanuela Pimenta levanta um alerta crucial: a carência de espaços e profissionais qualificados para o atendimento especializado no Sistema Único de Saúde (SUS). Em entrevista ao Podcast Saúde360 do BN, a médica destacou a deficiência de ambulatórios específicos para a fibromialgia, tanto na reumatologia quanto em unidades de dor, que são escassos no sistema público.
"A gente não tem ambulatório de fibromialgia, esse é um problema do SUS. Não temos locais especializados para tratar o portador de fibromialgia. Nem na reumatologista, nem na dor, os ambulatórios de dores são poucos no sistema público, então hoje é um problema de saúde pública", observou Pimenta.
Segundo a especialista, a falta de atenção adequada leva muitos pacientes a se acostumarem com a dor, usando-a como forma de "se esconder de várias coisas". A dificuldade em conseguir atendimento especializado, com longas filas e consultas em especialidades não focadas na doença, contribui para que o paciente busque soluções paliativas, como a compra de medicamentos em farmácias. A profissional ressalta a necessidade de ampliação do número de médicos na área e a criação de centros de tratamento multidisciplinar.
"O grande problema é quando o paciente se acostuma. Ele se esconde através da dor. A dor passa a ser objeto para se esconder de várias coisas. Então, é muito complexo, a gente precisa realmente de um lugar, ter um local para aquele paciente ser diagnosticado, ser tratado, porque eles se acostumam. Para ele é mais fácil ir à farmácia comprar o remédio do que procurar [atendimento]. Por conta das filas enormes, ele não consegue ser atendido, passa a noite na fila. Quando consegue o médico não atende, pois esse ambulatório não é especializado. Temos uma pouca quantidade de reumatologistas no estado e não temos serviços especializados em fibromialgia. Você acaba mandando um paciente para o médico da dor, para um psiquiatra, que também é difícil de ajudar", pontuou.
A sanção da nova Lei, segundo Emanuela Pimenta, pode ser um catalisador para uma maior visibilidade e investimento na área. A médica reforça que a fibromialgia é um diagnóstico multidisciplinar e que a "dor invisível" exige um olhar criterioso, pois, por ser subjetiva e não possuir exames laboratoriais que a comprovem, requer um diagnóstico cuidadoso por parte dos reumatologistas, tornando-se um "problema grave de saúde pública" que necessita de atenção especializada e centros de tratamento dedicados.