Red Bull quer formar 'Messi em casa' com CT inovador e tecnologia inédita

O RB Leipzig emergiu como uma força no futebol alemão de forma surpreendente nos últimos anos. Fundado em 2009, o clube saltou da quinta divisão à elite em apenas sete temporadas, impulsionado pelo apoio da Red Bull. Além da ascensão meteórica, o Leipzig conquistou duas Copas da Alemanha (2022 e 2023) e se tornou figurinha carimbada em competições europeias. Nos bastidores do clube, a explicação para o sucesso é clara: um projeto bem definido focado em investimento massivo em infraestrutura.
"Desde o dia 1 a Red Bull não investe só em contratações de jogadores, investimos em infraestrutura", afirma Johann Plenge, diretor geral do RB Leipzig, em entrevista. Ele complementa que este foco "prova que é um projeto forte para construir o clube e que você pensa a longo prazo", citando investimentos na Red Bull Arena – estádio que recebeu jogos da Copa de 2006 e foi adquirido pela empresa –, no centro de treinamento e em um novo escritório a ser inaugurado em novembro deste ano.
A filosofia do projeto Red Bull, aplicada não apenas na Alemanha, é nítida: ter uma estrutura de ponta para desenvolver grandes atletas. O clube opta por não contratar superestrelas, priorizando a formação e a manutenção de um elenco jovem. Essa estratégia tem se mostrado lucrativa. Nos últimos anos, o RB Leipzig realizou vendas milionárias de jogadores que se destacaram na equipe, como Dani Olmo (vendido por R$ 340 milhões), Dominik Szoboszlai (R$ 365 milhões), Josko Gvardiol (R$ 536 milhões) e Christopher Nkunku (R$ 405 milhões). A prioridade é clara: focar no desenvolvimento dos mais jovens, mesmo que não sejam necessariamente revelados na própria base do clube. Essa abordagem é replicada em todos os projetos de futebol da Red Bull no mundo, que hoje conta com cinco clubes: RB Leipzig (Alemanha), Red Bull Bragantino (Brasil), Red Bull Salzburg (Áustria), New York Red Bulls (Estados Unidos) e RB Omiya Ardija (Japão), que subiu recentemente para a segunda divisão e já mira a elite japonesa.
Vale notar um fato curioso: o time não se chama formalmente Red Bull Leipzig. O 'RB' em seu nome significa RasenBallsport ('esporte com bola no gramado'). As regras da Federação Alemã de Futebol não permitem que clubes levem nomes de empresas, a menos que esta seja acionista há mais de 20 anos – o que não impede a Red Bull de gerenciar completamente o clube.
O centro de treinamento do RB Leipzig revela a fundo a preocupação em moldar grandes atletas. Detalhes como o campo de treino da base posicionado de frente para a Red Bull Arena visam inspirar os jovens a sonhar em atuar no estádio principal. Há até mesmo um campo de treino militar, exclusivo para aprimorar coordenação e equilíbrio dos atletas até os 15 anos. Outra particularidade é a academia dos juniores, que fica de frente para a dos profissionais, reforçando a motivação dos garotos em alcançar o time principal – uma abordagem diferente, por exemplo, do Bayern de Munique, onde as categorias treinam separadamente.
A educação é vista como pilar fundamental. Um casal de professores reside no CT com suas filhas, atuando como mentores para os jovens, auxiliando não só nos estudos, mas também com conselhos. O clube mantém comunicação constante com a escola, e jogadores com baixo rendimento escolar são retirados dos treinos, reforçando a máxima: quem não treina, não joga.
A busca por atualização é constante no CT. O RB Leipzig é o único clube no mundo a possuir a tecnologia Soccer Bot 360, desenvolvida por uma empresa local. Este simulador, avaliado em R$ 2,5 milhões, oferece métodos de treinamento inovadores para melhorar o desempenho individual. Permite simular situações típicas de jogo e refinar a coordenação tanto dos jovens quanto dos profissionais, além de possibilitar jogos interativos que geram grande engajamento entre atletas de todas as idades.
A Red Bull enxerga o investimento elevado em infraestrutura como um diferencial para atrair jovens jogadores, especialmente aqueles com poucas oportunidades em outros clubes alemães. Este mesmo modelo está sendo implementado no Brasil com o Red Bull Bragantino, que buscou copiar o projeto dos CTs de Leipzig e Salzburg com o objetivo de, no futuro, competir em igualdade com as principais forças do futebol brasileiro.
* A reportagem viajou para Leipzig a convite da Red Bull.