Reggae na Bahia: Entenda como o gênero jamaicano se fortaleceu na cultura baiana

"Reggae é música, reggae é som, beleza pura", cantava Edson Gomes, definindo um dos movimentos culturais mais influentes da atualidade. No dia 11 de maio, o Dia Nacional do Reggae celebra Bob Marley, ícone falecido nesta data e precursor desse ritmo que ecoa mensagens de paz e influenciou artistas como Edson Gomes, Remanescentes, Ministério Público Sound System, Natiruts e Skank.
Nascido no Caribe, o reggae ganhou força no Brasil, especialmente na Bahia, adquirindo características únicas. Bob Marley, o maior expoente do gênero, iniciou sua trajetória em Kingston, Jamaica, nos anos 60, com a banda The Wailers, alcançando reconhecimento nos Estados Unidos com o álbum "Natty Dread" e suas letras militantes.
"Don't worry about a thing, 'cause every little thing gonna be all right", pregava Marley enquanto o ritmo chegava ao Brasil. Fabrício Mota, músico, produtor cultural e pesquisador do reggae, explica que a música caribenha se espalhou no país nos anos 70 pelas zonas portuárias e pelo rádio, influenciando a cultura popular brasileira. Ele destaca que o reggae se tornou um gênero fundamental no Brasil, com características próprias.
O livro "Guerreir@s do terceiro mundo", de Mota, detalha o surgimento da cena reggae nos anos 80, em paralelo com o fortalecimento do axé music. O reggae ganhou força no subúrbio de Salvador, impulsionado pela profissionalização da música na Bahia, que abriu espaço para gravações e artistas do gênero. O Recôncavo, o interior da Bahia e Salvador formaram um tripé importante para o desenvolvimento do reggae baiano, com artistas como Edson e Timtim Gomes, Lazzo Matumbi e Jorge de Angélica.
Além do ritmo, o reggae carrega um discurso de justiça social, combate ao racismo e conotação religiosa, com raízes no pan-africanismo. Essa relevância vai além da música, impactando na estética, política e direitos civis, como demonstra a canção "Acorde, levante e lute", de Edson Gomes.
Na Bahia, o reggae se fortaleceu com o surgimento dos blocos afro e a luta contra o racismo após a redemocratização, unindo ritmos brasileiros e a sonoridade jamaicana. O samba-reggae, criado por Neguinho do Samba, é um exemplo dessa mistura, combinando o samba baiano com a influência de Bob Marley.
Para Fabrício Mota, o reggae se consolida como um dos gêneros mais importantes do mundo, servindo de base para outros estilos musicais. No entanto, ele ressalta que a mensagem original pode se diluir ao atingir grandes proporções, com a desvalorização de artistas como Edson Gomes.
Apesar disso, o reggae baiano continua a gerar frutos, com novos artistas e o fortalecimento do ritmo. A cantora e compositora Danzi, influenciada por Bob Marley, se define como "Roots Rock Reggae Queen", unindo a tradição do reggae com a rebeldia. Para ela, a música tem o poder de educar e elevar as pessoas, com o reggae a ajudando a compreender o movimento Rastafari.
Danzi lamenta a falta de espaço para o reggae na mídia, que prioriza mensagens mais leves. Mesmo assim, o gênero segue mobilizando artistas e fãs, com eventos como a República do Reggae, um dos maiores do gênero na América Latina.
Ainda assim, artistas independentes enfrentam dificuldades para se destacar. Danzi critica a falta de espaço e a priorização de outros estilos musicais em festivais. Para o pesquisador Moura, a falta de apoio de políticas públicas agrava a situação, como o fechamento da Praça do Reggae no Pelourinho. Ele defende a necessidade de valorizar o gênero e seus artistas, combatendo um modelo de indústria cultural que enriquece poucos e exclui a população negra.
Neste domingo, o Festival Reguetho celebra o reggae com apresentações de Danzi, Banda Cativeiro, Mavi, PC. do Reggae e JC. do Reggae, no Largo Tereza Batista, no Pelourinho.