Regime do Irã fará execuções em massa caso permaneça no poder, diz opositor

Publicado em 26/06/2025 às 10:07:28
Regime do Irã fará execuções em massa caso permaneça no poder, diz opositor

Um cessar-fogo entre Israel e Irã entrou em vigor nesta terça-feira (24), trazendo um respiro para o regime iraniano diante de um período de forte pressão. Anteriormente ao anúncio do acordo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressou o desejo de que Teerã pudesse "seguir rumo à paz e harmonia". Trump também declarou não desejar uma mudança de regime no Irã, temendo que tal evento pudesse acarretar em caos.

Arash Hamedian, um opositor iraniano entrevistado pela Folha de S.Paulo, relatou que a população do Irã se sente traída pelas declarações de Trump. Segundo ele, a trégua acordada pelo republicano beneficia a teocracia, mas é "muito ruim para o povo", pois antecipa uma intensificação da repressão contra dissidentes que buscam a derrubada do regime, no poder desde a Revolução Islâmica de 1979.

Hamedian alertou que a permanência do regime no poder pode resultar em execuções em massa e em uma contínua opressão ao povo iraniano e a opositores no exterior. Para ele, a única via para a paz e harmonia entre Irã, Israel, o Oriente Médio e o mundo passa por uma mudança de regime no país. Qualquer outro desfecho, em sua visão, levará ao caos e à destruição.

O opositor informou que o regime já tem promovido prisões com o intuito de incutir medo. Em um período de 12 dias de conflito, as autoridades iranianas prenderam aproximadamente 700 pessoas sob a acusação de espionagem para Israel, conforme divulgado pela agência de notícias Nournews.

Atualmente residindo na Alemanha, Hamedian deixou o Irã em 2009, citando a falta de liberdade de expressão como um fator de sufocamento e perigo. Ele acompanha a crise à distância e teme pela segurança de seus familiares no Irã. O contato com eles foi interrompido, segundo ele, devido à queda da internet determinada pelo regime após os ataques israelenses a instalações nucleares iranianas no dia 13.

Hamedian lembrou que, há dois anos, uma revolução popular teve início após a morte de Mahsa Amini, detida pela polícia moral por supostamente ter utilizado incorretamente o véu islâmico. Para ele, o controle da internet pelo regime visa garantir o apoio, e o corte de acesso é análogo à escuridão, permitindo que ações violentas ocorram sem divulgação.

Os protestos iniciados após a morte de Amini em 2022 representaram a mais severa ameaça ao regime dos aiatolás desde a fundação da República Islâmica. Milhares de manifestantes aproveitaram a mobilização para exigir mudanças estruturais em um país já assolado por uma grave crise econômica, agravada por sanções internacionais. O regime, em sua resposta, agiu com brutalidade, resultando em mais de 500 mortes e 22 mil detenções.

Segundo Hamedian, o regime, já fragilizado, tornou-se ainda mais debilitado após os bombardeios sem precedentes de Israel e dos Estados Unidos. Ele ressaltou que, apesar disso, a presença de militantes armados nas ruas faz com que o regime ainda pareça forte diante de uma população desarmada.

Hamedian também refutou a afirmação de Trump sobre o caos decorrente de uma eventual queda do regime. Ele argumenta que a ascensão de um novo governo baseado em extremismo religioso seria improvável devido à alta rejeição à teocracia atual. Atualmente, observa Hamedian, mesmo indivíduos religiosos defendem a separação entre religião e política, o que aponta para a possibilidade de um governo mais moderado.

Neste contexto, o opositor defende que o governo brasileiro, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, deve romper todas as relações com o regime iraniano. Essa medida representaria uma mudança significativa em relação às posições recentes da diplomacia brasileira, que tem sido mais crítica a Israel no decorrer do conflito. Como exemplo, mencionou uma declaração de Lula no G7, onde o presidente alertou para o risco de o Oriente Médio se tornar um único campo de batalha com consequências globais, sem, contudo, fazer referência à retaliação iraniana.

Enquanto o regime permanecer no poder, Hamedian continua seus esforços para "conscientizar as pessoas sobre a realidade do Irã".