Adultização infantil: psicóloga e ginecologista alertam sobre riscos e pedem legislação protetiva

Publicado em 27/08/2025 às 18:46:31
Nota Baiana

O debate sobre a "adultização" infantil ganhou força no Brasil, especialmente após um vídeo divulgado pelo humorista Felca denunciar a exploração de crianças e adolescentes por influenciadores. O tema foi aprofundado durante o podcast Saúde360, do BN, nesta terça-feira (26), com a participação da psicóloga Ana Paula Pitiá e da ginecologista Patrícia Almeida. Ambas especialistas discorreram sobre a exposição precoce de crianças e jovens a comportamentos, conteúdos e responsabilidades típicas da vida adulta, em detrimento do seu desenvolvimento adequado.

A denúncia de Felca, que se concentrou na figura do influenciador Hytalo Santos, mobilizou políticos, especialistas, famílias e organizações da sociedade civil, impulsionando discussões sobre a necessidade de aprovação de uma legislação que proteja crianças e adolescentes no ambiente digital.

Patrícia Almeida destacou os perigos da hipersexualização infantil, enfatizando a importância da educação e do diálogo aberto para prevenir problemas de saúde. Ela ressaltou a preocupação em ver meninas muito jovens apresentando comportamentos "adultizados" e a necessidade de cuidado para que elas não sejam sobrecarregadas psiquicamente com uma sexualidade incompatível com sua fase de desenvolvimento.

"É muito triste vermos essa adultização. A gente vê desfilar no consultório meninas muito novinhas, extremamente adultizadas, falas deste tipo. Acho que o grande cuidado é não colocar essa menina ou menino que chega ao consultório com a hipersexualização que ela psiquicamente não dá conta do que vem. Muitas vezes, ela está ali numa faixa etária que não é compatível", explicou Almeida, comparando a importância da vacinação infantil para prevenir a Hepatite B com a necessidade de educação sexual precoce para evitar problemas futuros.

A ginecologista exemplificou a hipersexualização com brincadeiras infantis e vestimentas que podem levar à erotização precoce, como roupas muito justas. Ela também alertou sobre o excesso de intimidade e o conhecimento precoce sobre a vida sexual dos pais, que deve ser mantido em um âmbito privado e adequado a cada faixa etária.

Por sua vez, Ana Paula Pitiá enfatizou o papel fundamental dos pais na orientação e reflexão sobre o contexto em que as crianças estão inseridas, uma vez que estas tendem a reproduzir o que aprendem. A psicóloga defendeu a discussão sobre cultura e estruturas familiares para compreender o fenômeno da adultização e a dificuldade que algumas famílias enfrentam em filtrar influências externas negativas.

"O papel dos pais é orientar, é conversar, mas acredito que também é refletir sobre o próprio contexto que eles estão inseridos, pois se a criança dança, faz determinadas coreografias, quem está ensinando e incentivando? De onde é que vem isso? Essa reflexão, acho que é uma coisa também importante. Ela [a criança] só reproduz. A criança se veste de forma adultizada, quem é que compra? Quem é que veste? Como é essa dinâmica? Precisamos discutir cultura, estruturas de família e uma série de coisas", pontuou Pitiá.

A psicóloga complementou que a sociedade tem o dever de alertar, educar e promover a reflexão das famílias sobre seus próprios comportamentos, citando exemplos como músicas e roupas. Para ela, a atenção a esses comportamentos é crucial para quebrar esse ciclo prejudicial ao desenvolvimento infantil.