Anvisa aprova novo medicamento e especialista destaca avanço no tratamento do Alzheimer em fase inicial

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, na última terça-feira (22), o primeiro medicamento para o tratamento da fase inicial do Alzheimer sintomático. O Kisunla [donanemabe], fabricado pela Eli Lilly, tem como alvo os sintomas da doença, como deterioração da memória, função cognitiva e atividades motoras, que afetam cerca de 1,2 milhão de brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde de 2023, com 100 mil novos casos diagnosticados anualmente.
A neurologista Roberta Kauark explicou que o medicamento atua neutralizando a proteína beta-amiloide, cuja acumulação descontrolada no cérebro é uma característica da doença. O Kisunla é um anticorpo monoclonal que se liga a esses aglomerados, reduzindo-os e, potencialmente, retardando a progressão da doença.
Embora o número de diagnósticos tenha aumentado 22%, impulsionado pela melhoria na cobertura da saúde pública, o Brasil registrou mais de 211 mil mortes por complicações associadas ao Alzheimer entre 2000 e 2019, segundo pesquisa da Unifesp e da Universidade Columbia.
Estudos que embasaram a aprovação da Anvisa, realizados em oito países com 1.736 pacientes em estágio inicial, demonstraram que o donanemabe, administrado em doses específicas, resultou em menor progressão e maior estabilidade da doença em comparação com placebo, além de melhora em exames e clinicamente.
No entanto, o uso do medicamento é contraindicado para pacientes que utilizam anticoagulantes ou que possuam angiopatia amiloide cerebral (AAC). Kauark ressaltou que o medicamento é indicado para pacientes com declínio cognitivo leve ou demência leve, e que mesmo nesses casos, há risco de complicações como sangramento intracerebral, exigindo uma seleção cuidadosa dos pacientes.
Embora o Alzheimer seja mais comum em pessoas com mais de 60 anos, o aparecimento precoce da doença está se tornando mais frequente, especialmente em indivíduos entre 30 e 50 anos, onde a investigação de causas genéticas é crucial.
Após a aprovação, o Kisunla aguarda a definição de preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). A neurologista enfatiza a importância dessa etapa para determinar a viabilidade do uso do medicamento no Brasil, inclusive no SUS, e a necessidade de protocolos bem estruturados, considerando a dificuldade de acesso a exames como o PET Amiloide no país.
A Anvisa assegurou que monitorará a segurança e a efetividade do donanemabe, implementando atividades de minimização de riscos conforme o plano aprovado.