Arrocha pode se tornar Patrimônio Imaterial da Bahia: PL na AL-BA busca reconhecimento para o ritmo popular

O arrocha, fenômeno musical que emergiu na Região Metropolitana de Salvador (RMS) no final dos anos 90, está cada vez mais consolidado no Carnaval da Bahia e expandindo seu alcance por todo o país. Agora, o ritmo popular baiano pode receber um importante reconhecimento: o título de Patrimônio Imaterial do Estado da Bahia.
O deputado estadual Hilton Coelho (PSOL) apresentou um Projeto de Lei (PL) com o objetivo de conceder esse status ao arrocha, citando sua "relevância histórica, social e cultural". A proposta foi submetida à Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) nesta quinta-feira (14) e aguarda análise das comissões temáticas antes de ser votada em plenário.
Na justificativa do projeto, o parlamentar destaca os fundadores do gênero, como as cantoras Nara Costa e Nira Guerreira, a banda Asas Livres e os artistas Pablo e Silvanno Salles. Segundo Hilton Coelho, esses nomes foram fundamentais para a disseminação da cultura baiana em território nacional, com letras que exploram temas como "amor, saudade e traição", que posteriormente se tornaram marcos do "sofrimento" característico do arrocha.
"Apesar de inicialmente não contar com a cobertura da grande indústria fonográfica, o Arrocha se espalhou por meio de produções independentes, CDs informais e apresentações em praças públicas, conquistando rapidamente seu espaço popular", afirmou o deputado. Ele também ressaltou a influência de artistas como Tayrone, ao lado dos já mencionados pioneiros, na projeção do ritmo em toda a Bahia, no Nordeste e no Brasil.
Hilton Coelho também enfatizou o papel do arrocha no empoderamento cultural e na atividade econômica da Bahia. Para o deputado, o reconhecimento como Patrimônio Imaterial é uma forma de valorizar uma expressão musical genuinamente popular.
"O Arrocha é de grande importância para o empoderamento cultural e econômico na Bahia, gerando emprego, movimentando espaços de lazer e fortalecendo a identidade local. Reconhecê-lo como Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia significa valorizar uma expressão musical que nasceu das bases populares e segue pulsante, reinventando-se e influenciando outros estilos musicais", declarou Hilton.
**As Origens do Arrocha**
Segundo o professor e doutor em Etnomusicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Aaron Lopes, o arrocha tem suas raízes musicais no bolero, ritmo de origem cubana que já era popular na Bahia desde o início do século XX, presente em festas e eventos boêmios. O arrocha surgiu como uma estilização do bolero, com variações rítmicas, novas sonoridades e um repertório predominantemente romântico.
A pesquisadora Dayanne Souza Figueiredo, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), aponta que o município de Candeias, na RMS, foi o berço do ritmo, entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000, durante as festas de seresta. Ela destaca que o arrocha possui fortes raízes periféricas, o que, segundo ela, pode explicar a resistência inicial que o gênero enfrentou.
Figueiredo também observa o preconceito contra o arrocha em comentários de redes sociais, associando-o a outros gêneros como o brega e o funk, e questionando sua qualidade musical. Ela argumenta que essas críticas vão além de preferências subjetivas, indicando a presença de desvalorização social.
Atualmente, o gênero continua a crescer com novos talentos como Natazinho Lima, Nadson O Ferinha e Simone Morena, de Sergipe. Na Bahia, nomes como Pablo e Silvanno Sales permanecem como pioneiros, enquanto artistas como Theuzinho, Toque Dez, Kart Love, Thiago Aquino, Anna Catarina e Raquel dos Teclados impulsionam o arrocha, mantendo o ritmo vivo e em constante reinvenção.