Auditor da Sefaz-SP e mãe em esquema bilionário de manipulação de créditos de ICMS

Publicado em 17/08/2025 às 22:47:49
Auditor da Sefaz-SP e mãe em esquema bilionário de manipulação de créditos de ICMS

Um auditor fiscal da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Sefaz-SP), Artur Gomes da Silva Neto, está no centro de uma investigação conduzida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Segundo a promotoria, ele teria estabelecido contato direto com empresários e executivos de grandes redes varejistas, como Fast Shop e Ultrafarma, para orquestrar um esquema de manipulação de créditos de ICMS que movimentou cifras bilionárias. As negociações e direcionamentos teriam ocorrido por meio de encontros presenciais, mensagens de WhatsApp, reuniões no Microsoft Teams e trocas de e-mails.

Silva Neto é acusado de atuar como um "coringa" para as empresas, desde a preparação de arquivos digitais até a aprovação e liberação fraudulenta de créditos em valores superiores aos devidos, além de assegurar a inexistência de revisões posteriores. Essa garantia, suspeita-se, facilitava a venda rápida e com menores descontos dos créditos para outras companhias.

As investigações apontam que, na Fast Shop, os pagamentos eram formalizados em contratos simulados, com transferências para a Smart Tax, empresa registrada em nome da mãe de Silva Neto, Kimio Mizukami da Silva, mas operada por ele. Já na Ultrafarma, de acordo com a apuração, os acertos não teriam envolvido contratos ou notas fiscais, com a suspeita de que os repasses poderiam ter sido feitos em criptomoedas ou através de empresas de terceiros.

As defesas da Fast Shop e da Ultrafarma afirmaram estar colaborando com as autoridades. A defesa de Sidney Oliveira, proprietário da Ultrafarma, alegou impossibilidade de comentar devido ao segredo de justiça. O advogado de Silva Neto declarou que buscará demonstrar a inexistência de elementos para a manutenção da prisão temporária.

A investigação teve início com um pedido do Ministério Público de Mato Grosso do Sul para rastrear empresas ligadas a Celso Éder Gonzaga de Araújo, suspeito de golpes bilionários em negócios de ouro. Durante o rastreamento de empresas em São Paulo, o MP-SP identificou companhias com capital elevado e uma empresa de governança tributária associada à Smart Tax, fundada por Kimio e seu filho, Silva Neto. O patrimônio declarado de Kimio, professora aposentada, disparou de R$ 411 mil para quase R$ 2 bilhões em dois anos, supostamente proveniente dos lucros da Smart Tax.

A Sefaz-SP informou que as irregularidades apontadas na Operação Ícaro são anteriores à gestão atual e que o servidor envolvido foi retirado da supervisão da área responsável. Um procedimento administrativo disciplinar foi instaurado.

O esquema pode ter sido estendido a outras empresas, como Allmix Distribuidora, Rede 28 Postos de Combustíveis e Oxxo. Celso Éder Gonzaga de Araújo foi preso, suspeito de colaborar na lavagem de dinheiro de Silva Neto, com apreensão de valores e pedras preciosas em sua residência.

A linha do tempo da Operação Ícaro, segundo o MP-SP, detalha desde a fundação da Smart Tax em 2013, a expansão das atividades em 2021, os pagamentos da Fast Shop em 2022, e a descoberta do esquema com outras empresas e o aumento patrimonial de Kimio em 2023. As prisões temporárias de Sidney Oliveira e Mário Otávio Gomes ocorreram em agosto de 2025, com posterior soltura sob fiança.