Bahia protagonizou mais de 171 conflitos no campo em 2024, aponta relatório da CPT

Um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) revelou que a Bahia registrou 171 conflitos no campo em 2024, colocando o estado em terceiro lugar no ranking nacional, atrás apenas do Maranhão (420) e Pará (314). O levantamento "Conflitos no Campo Brasil", divulgado na última quarta-feira (23), abrange violências ligadas à posse e uso da terra, como despejos, grilagem e invasões.
A CPT, organização ligada à Igreja Católica que monitora violações de direitos de trabalhadores e povos do campo, aponta fazendeiros como os principais agentes causadores da violência. O relatório detalha disputas por terra, água, questões trabalhistas, garimpo e conflitos sindicais.
A violência resultou na morte da professora e líder indígena Nega Pataxó, assassinada em Potiraguá, além de uma morte "em consequência" dos conflitos e 69 ameaças de morte em 13 ações em diferentes municípios. Barra, Correntina, Eunápolis, Itabela, Lauro de Freitas, Porto Seguro, Santa Maria da Vitória e Souto Soares foram palco dessas ameaças, atingindo quilombolas, camponeses e indígenas. Quatro pessoas foram presas e três agredidas em meio às tensões.
O estudo divide os conflitos em três eixos: Terra, Água e Trabalhista. A maioria dos casos (78,9%) está ligada à posse da terra, afetando camponeses, quilombolas, indígenas e sem-terra. Ocorreram nove ocupações e retomadas de terra em 2024. Correntina, João Dourado, Barra, Santa Maria da Vitória e Uibaí concentram quase um terço dos registros.
Os conflitos relacionados à água somaram 22, em 14 municípios, principalmente devido à diminuição do acesso. Correntina lidera os casos, seguida por Barreiras, São Desidério, Belmonte, Canavieiras, Una, Caetité, Itaetité, Lençois, Piatã, Pindaí, Salvador, Simões Filho e Taperoá.
Foram contabilizadas cinco ações de Conflitos Trabalhistas, envolvendo 27 trabalhadores em Morro do Chapéu, Nazaré, Ituaçu e Ibititá, ligados à lavoura de sisal, criação de gado de corte e lavoura de café.
A CPT também alertou para a atuação do movimento ruralista "Invasão Zero", composto por grandes fazendeiros, que tem se destacado por ações violentas contra famílias em acampamentos e retomadas de territórios.
Em seu jubileu de 50 anos, a CPT homenageou os primeiros colaboradores do projeto de documentação de conflitos, iniciado em 1985.

