Brasil pode ter desaceleração considerável com tarifas dos EUA, diz FMI

Publicado em 26/04/2025 às 11:35:32
Brasil pode ter desaceleração considerável com tarifas dos EUA, diz FMI

As tarifas impostas por Donald Trump a nível global terão um impacto indireto significativo na América Latina, conforme alertou Rodrigo Valdés, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI. A declaração foi feita durante as reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial em Washington, onde o Fundo também revisou para baixo as projeções de crescimento para a região, estimando uma desaceleração de 2,4% em 2024 para 2% em 2025 – 0,5 ponto percentual abaixo da previsão anterior.

Valdés destacou que o crescimento na América Latina tem sido impulsionado pelo consumo, mas que a lentidão global, a incerteza, as tarifas e políticas internas mais rígidas em alguns países estão a pesar sobre o desempenho econômico. Ele também apontou para uma "heterogeneidade significativa" na desaceleração, com o México e o Brasil particularmente vulneráveis. O FMI prevê uma "desaceleração relevante" no Brasil, justificada pela adoção de políticas restritivas consideradas apropriadas. Argentina e Equador, por outro lado, devem experimentar uma recuperação, impulsionada por programas de apoio do FMI.

O diretor do FMI enfatizou a complexidade do cenário econômico atual, marcado por tarifas, interrupções nas cadeias de valor, volatilidade dos preços das commodities e incertezas nas políticas econômicas. Apesar de alguns países poderem se beneficiar da diversificação do comércio, o efeito geral é considerado negativo.

Em relação à política monetária, Valdés reconheceu a incerteza do momento e elogiou a postura atenta do Banco Central do Brasil. Ele observou que as tarifas geram choques negativos de demanda e as interrupções nas cadeias produtivas causam choques negativos de oferta, com efeitos distintos sobre os preços. Mesmo que as tarifas para a região sejam relativamente baixas, a desaceleração global pode afetar a demanda por commodities e ter impactos indiretos maiores na América Latina através dos preços das commodities e da depreciação cambial.

O risco de aumento da inflação foi mencionado como uma preocupação, embora a expectativa seja de uma redução gradual, mesmo que alguns países não atinjam suas metas antes de 2026. Valdés reiterou que o Banco Central do Brasil tem demonstrado rigor na política monetária e está atento aos desafios fiscais.

O tema das tarifas de Trump dominou as discussões nas reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial. Autoridades financeiras do G20, incluindo a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, solicitaram ao Secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, uma desescalada nas tensões comerciais.