COP30 em Belém: "Não há plano B", afirma presidente, mas preços de hospedagem ameaçam países pobres

Publicado em 01/08/2025 às 19:47:48
COP30 em Belém: "Não há plano B", afirma presidente, mas preços de hospedagem ameaçam países pobres

A realização da Conferência das Partes (COP30), o principal encontro global sobre clima da ONU, está confirmada para Belém, no Pará. André Corrêa do Lago, embaixador e presidente da COP30, declarou enfaticamente nesta sexta-feira (1º) que "não há plano B" para o evento na capital paraense, e que a chefe da organização, Ana Toni, reforçou a ausência de alternativas em estudo pelo governo. A prioridade, segundo Toni, é encontrar soluções para o alto custo da hospedagem.

No entanto, a decisão de manter Belém como sede enfrenta crescente pressão internacional. Negociadores de 25 países enviaram uma carta conjunta à organização da COP30 e à UNFCCC (o braço climático da ONU), expressando preocupação com as condições de acomodação e os preços exorbitantes de hotéis e aluguéis na cidade. O documento, que inclui nações desenvolvidas, solicita que "seja em Belém ou em outro lugar" sejam garantidas condições mínimas de hospedagem e custo acessível.

A antecipação da cúpula de chefes de Estado e de governo, marcada para 6 e 7 de novembro (antes do período principal da COP, de 10 a 21 de novembro), foi uma tentativa de reduzir a demanda por hospedagem. Contudo, o embaixador André Corrêa do Lago admitiu que os preços atuais, muito acima dos US$ 70 (cerca de R$ 388) por diária que países menos desenvolvidos podem arcar, representam um obstáculo real à participação dessas nações.

"Os preços mais baratos que foram oferecidos não estão sendo aceitos [por exemplo] pelos países africanos e países de menor desenvolvimento relativo", disse Lago, destacando a urgência em encontrar soluções para garantir a presença de todos. O governo federal está empenhado em "assegurar que todos os países, mesmo os mais pobres, possam vir para a COP", segundo o presidente. A formalização das reclamações dentro da ONU, segundo Lago, já está impactando as negociações climáticas, desviando o foco de "questões de substância".

A carta de pressão, apesar de reconhecer os esforços do governo Lula e da organização, detalha a preocupação com a falta de clareza sobre a solução do problema de hospedagem, a cem dias do início do evento. Os signatários pedem que as condições de transporte seguro e eficiente para o pavilhão também sejam garantidas, especialmente para quem precisar se deslocar tarde da noite. A comunicação aponta que, se a COP realmente ocorrer em Belém, essas condições são cruciais.

Recentemente, uma reunião de emergência da UNFCCC abordou os desafios logísticos, e uma nova reunião está agendada para o próximo dia 11. Desde o anúncio de Belém como sede, os preços de hotéis dispararam, e a organização busca alternativas para suprir o déficit de cerca de 50 mil vagas. Entre as estratégias estão investigações sobre práticas abusivas do setor hoteleiro, mobilização de imóveis via Airbnb, e o uso de escolas, unidades habitacionais do "Minha Casa, Minha Vida" e até navios cruzeiro.

A plataforma oficial de hospedagem, lançada com atraso e inicialmente restrita a participantes, oferece quartos por até US$ 220 (R$ 1.225) para nações em desenvolvimento. Delegações de países menos desenvolvidos e insulares terão direito a 15 quartos por até US$ 200, e outras delegações a 10 quartos por até US$ 600, totalizando 2.500 unidades. Contudo, a carta ressalta que a falta de garantia para acomodar todos os participantes é inédita e preocupante. Os países mencionam que, apesar de esforços para reduzir delegações conforme solicitado pelo Brasil, há um limite devido à complexidade das negociações, e criticam a possibilidade de divisão de quartos, além de defenderem a garantia de participação da sociedade civil. A carta conclui que, sem essas condições asseguradas, "não teremos chance de chegar a um resultado de sucesso" nas negociações multilaterais.