Denunciado na trama golpista é ouvido no Senado como especialista sobre urnas em audiência

Publicado em 26/04/2025 às 14:05:31
Denunciado na trama golpista é ouvido no Senado como especialista sobre urnas em audiência

Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal e denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento na alegada trama golpista, participou de uma audiência pública no Senado Federal na quinta-feira (24), na qualidade de especialista em urnas eletrônicas. O debate, realizado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), focou o novo Código Eleitoral, já aprovado na Câmara dos Deputados e em tramitação no Senado desde 2021.

Rocha agradeceu o convite ao senador Esperidião Amin (PP-SC) no início de sua apresentação. Segundo o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator do texto, a indicação de Rocha para a audiência partiu do senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição. A assessoria de Marinho informou que o nome de Rocha foi encaminhado à presidência da CCJ a pedido da assessoria do senador Amin.

Em 2022, o instituto de Rocha foi contratado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para realizar uma auditoria nas urnas eletrônicas, durante a campanha de Jair Bolsonaro para desacreditar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o sistema de votação eletrônico. A PGR denunciou Rocha por integrar o núcleo de operações estratégicas, acusado de disseminar notícias falsas sobre o sistema eleitoral, atacando instituições e autoridades.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Rocha alegou ter realizado apenas um trabalho técnico, sem controle sobre o uso político feito pelo PL. Negou ter falado em fraude eleitoral e afirmou ter o objetivo de colaborar com o TSE para aperfeiçoar as urnas.

Em sua apresentação no Senado, Rocha apontou a concentração de funções no TSE e a "ausência de contagem pública" como desafios, sugerindo que a administração das eleições permanecesse a cargo de uma agência eleitoral submetida ao Congresso.

O senador Marcelo Castro defendeu a segurança das urnas após a apresentação de Rocha, afirmando que "até hoje não foi comprovada uma única fraude de urnas eletrônicas" e que não há ações judiciais em andamento referentes à eleição de 2024 por fraude em urnas. Já o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) expressou opinião divergente, defendendo o aperfeiçoamento das urnas eletrônicas e mencionando o voto impresso.

Rocha é acusado de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio público e deterioração de patrimônio tombado, crimes pelos quais outros envolvidos, incluindo o ex-presidente Bolsonaro, também foram denunciados.

Um relatório da Polícia Federal indica que Rocha foi alertado sobre a falta de evidências de fraude nos dados que o PL utilizou para contestar votos de algumas urnas em 2022. Rocha, em entrevista, minimizou o alerta, afirmando que era o coordenador do trabalho e que o colaborador era especialista em estatística, enquanto ele era especialista em urnas eletrônicas.

O Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não julgou o recebimento da denúncia contra Rocha. A corte já tornou réus 14 acusados no caso, incluindo o núcleo principal da acusação, que inclui Bolsonaro e ex-ministros.