Dólar abre em baixa com novos ataques de Trump ao Fed

Publicado em 22/04/2025 às 13:22:55
Dólar abre em baixa com novos ataques de Trump ao Fed

Após o feriado prolongado no Brasil, o dólar abriu em baixa nesta terça-feira (22), com investidores atentos às críticas de Donald Trump, presidente dos EUA, ao Federal Reserve (Fed) e às novidades sobre tarifas.

Às 9h07, a moeda americana registrava queda de 0,14%, sendo vendida a R$ 5,7985. Na segunda-feira (21), Trump intensificou a pressão sobre o banco central americano, alegando que a economia dos EUA pode desacelerar se as taxas de juros não forem reduzidas imediatamente.

Na quinta-feira (17), o dólar já havia apresentado forte queda de 1,01%, fechando a R$ 5,806, enquanto a Bolsa subiu 1,03%, atingindo 129.650 pontos. O dia foi marcado pelo início das negociações sobre as tarifas impostas pelo governo Trump. Japão e Estados Unidos se reuniram na quarta-feira para discutir as tarifas sobre produtos japoneses.

O Japão enviou o ministro da Revitalização Econômica, Ryosei Akazawa, para liderar o diálogo, enquanto os Estados Unidos foram representados pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, e pelo representante comercial Jamieson Greer.

Trump também participou das discussões e afirmou ter havido "grande progresso", sem fornecer detalhes adicionais sobre as negociações. O Japão busca reduzir ou eliminar a tarifa "recíproca" imposta por Trump em 2 de abril, apelidada de "dia da libertação". A sobretaxa para o país asiático foi de 24%, mas foi suspensa por 90 dias, assim como a maioria das tarifas impostas pelo republicano.

Autoridades japonesas avaliam que as discussões "não serão fáceis". O primeiro-ministro Shigeru Ishiba expressou que, embora o diálogo futuro possa ser desafiador, o presidente Trump manifestou o desejo de priorizar as negociações com o Japão. Ishiba também reforçou que o país não tem pressa em chegar a um acordo e não planeja fazer grandes concessões, descartando, por ora, a possibilidade de contramedidas às tarifas dos EUA.

O governo japonês foi um dos primeiros a iniciar negociações com Trump, e um eventual acordo entre os dois países pode servir de modelo para outros parceiros comerciais afetados pelas tarifas. Segundo Leonel Mattos, analista da Stonex, isso anima os investidores e reduz a aversão ao risco, sugerindo que uma solução para essa situação pode ser alcançada.

Essa perspectiva favorece moedas emergentes e fortalece o dólar em relação a outras moedas fortes, como o iene e o euro, pois a possibilidade de acordos tarifários diminui a desconfiança dos investidores em relação aos investimentos nos EUA. O índice DXY, que compara o dólar a uma cesta de outras seis moedas, subiu 0,15%, atingindo 99,42 pontos na quinta-feira, indicando uma desvalorização contínua do dólar.

André Valério, economista sênior do Inter, observa que a perda de credibilidade dos ativos americanos é um movimento incomum, geralmente associado a países emergentes, e sugere que a incerteza causada pela política tarifária tem deixado os investidores globais receosos com a economia americana, levando-os a buscar maior liquidez e alternativas ao dólar.

O receio é que as tarifas prejudiquem o comércio internacional, diminuindo os fluxos e elevando os preços de produtos-chave nas cadeias de abastecimento, o que poderia gerar inflação global e levar algumas das principais economias, incluindo os Estados Unidos, a uma recessão.

A decisão do Banco Central Europeu (BCE) de relaxar a política monetária e reduzir a taxa para 2,25% também influenciou o comportamento do dólar na quinta-feira. O aumento do diferencial de juros entre os EUA e a União Europeia torna a moeda americana mais atraente do que o euro em algumas operações.

O real, por sua vez, se manteve positivo devido à valorização de mais de 2,5% do petróleo Brent no exterior, o que impulsionou os papéis da Petrobras e contribuiu para a alta do Ibovespa. Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, destaca que a valorização do petróleo reflete no Brasil, que é exportador da commodity.

As tensões entre EUA e China também permanecem no radar dos investidores. Recentemente, a guerra comercial se intensificou com restrições a empresas com negócios nos dois países. O governo Trump restringiu a venda de chips H20 da Nvida para a China, alegando preocupações de que a tecnologia pudesse ser usada para fins inadequados. A empresa alertou que pode perder US$ 5,5 bilhões devido à restrição.

Essa medida ocorre após notícias de que a China suspendeu a compra de aeronaves da Boeing, embora essa informação ainda não tenha sido confirmada por Pequim. As restrições a empresas dão continuidade à escalada de tarifas, com a China enfrentando tarifas de até 245% e os Estados Unidos, de 125%.

Trump expressou a expectativa de fazer um acordo com a China, mas não forneceu detalhes sobre como as negociações serão iniciadas. O Ministério do Comércio da China pediu aos Estados Unidos que parassem de exercer "pressão extrema" e exigiu respeito em qualquer negociação comercial, mas os dois lados permanecem em um impasse sobre quem deve iniciar essas negociações.