Empresa de telefonia: de multa milionária a selo de ética, um caso de antifragilidade

Publicado em 25/08/2025 às 12:34:30
Nota Baiana

Uma empresa de telefonia demonstrou uma notável evolução em suas práticas de integridade, conquistando em 2023 o selo Pró-Ética concedido pela Controladoria Geral da União (CGU). A honraria reconhece organizações que voluntariamente implementaram medidas robustas para prevenir, detectar e remediar atos de corrupção, fraude, violações socioambientais e desrespeito aos direitos humanos.

Curiosamente, a relação desta mesma empresa com a CGU teve um início bem distinto. Em 2020, a companhia foi multada em mais de R$ 45 milhões pela CGU por ter presenteado agentes públicos com ingressos para jogos da Copa do Mundo de 2014, uma conduta considerada incompatível com a Lei Anticorrupção.

Histórias como essa, marcadas por reviravoltas e um desfecho positivo, ilustram o conceito de “antifragilidade” do matemático e analista de riscos Nassim Taleb. Ele argumenta que existem entidades que não apenas resistem ao caos, à volatilidade, crises e pressões, mas que se fortalecem e crescem diante de adversidades, tal como fez a operadora de telefonia.

O caso também ressalta a importância crucial dos órgãos de fiscalização no combate à corrupção e o papel fundamental dos gestores corporativos na jornada rumo à antifragilidade. Isso implica em transparência, admissão de erros, assunção de responsabilidades e liderança na transformação da empresa em direção a um sistema de integridade genuíno.

**Evolução Contínua da Integridade Institucional**

A Lei Anticorrupção (12.846/2013) impulsionou as empresas brasileiras a estruturarem programas de integridade com foco na prevenção e repressão à corrupção. Inicialmente, esses programas eram predominantemente mecanismos internos voltados à detecção e remediação de fraudes e ilícitos contra a administração pública, conforme o Decreto 8.420/2015.

Com a promulgação do Decreto 11.129/2022, o escopo da integridade institucional foi significativamente ampliado, dando o merecido destaque à promoção de uma cultura de integridade. Essa atualização representa uma mudança de uma visão limitada à conformidade para uma abordagem mais estratégica e transversal, onde a integridade é vista como um valor organizacional que guia decisões, comportamentos e relações.

Mais recentemente, o Decreto 12.304/2024 incorporou explicitamente à estrutura dos programas de integridade a mitigação de riscos sociais e ambientais derivados das atividades organizacionais, reforçando a responsabilidade das empresas na proteção dos direitos humanos. Assim, a integridade passou a dialogar não apenas com a conformidade, mas com a ética em seu sentido mais amplo, consolidando-se como um pilar da governança corporativa voltada à geração de valor compartilhado.

**A Ética como Alicerce da Cultura Organizacional**

A verdadeira integridade não se limita à retórica, mas se manifesta na coerência. Um sistema de integridade eficaz vai além da prevenção de fraudes ou do cumprimento de normas externas; ele promove a ética como elemento central da identidade organizacional.

Para alcançar essa meta, é necessário um duplo alicerce cultural: o sistema formal, que inclui códigos de conduta, políticas, canais de denúncia e estruturas de responsabilização; e o sistema informal, que se reflete nas atitudes, decisões e relações cotidianas dentro da organização. O alinhamento entre esses dois sistemas é o que permite a construção de uma cultura verdadeiramente íntegra, em linha com a máxima de Jocko Willink: “não é o que você prega, é o que você tolera que define sua cultura”. A falta dessa coerência pode resultar em uma fachada ética meramente documental, desprovida de práticas alinhadas no dia a dia.

**O Papel Indispensável da Liderança**

Neste contexto, o papel da liderança é determinante. A integridade não pode ser delegada exclusivamente a uma área técnica; ela exige o engajamento de sócios, conselhos, diretoria, gestores e colaboradores. Esse compromisso deve começar pelo exemplo de líderes éticos e inspiradores, que não apenas comunicam valores, mas os incorporam em suas decisões, mesmo em face de dilemas complexos ou pressões externas.

Competências como empatia, responsabilidade, tolerância ao estresse e assertividade são atributos essenciais da liderança ética, fundamentais para a tomada de decisões justas, a criação de ambientes de trabalho saudáveis e o estabelecimento de relações institucionais confiáveis.

O sistema de integridade, portanto, não é um fim em si mesmo, mas um meio poderoso para transformar a ética de um valor abstrato em prática cotidiana, garantindo que o propósito da organização seja não apenas declarado, mas vivenciado.

Adotar um sistema de integridade com coragem “antifrágil” revela-se um caminho estratégico para gerar e manter a reputação da companhia, um ativo vital para a sustentabilidade do negócio e a construção de valor a longo prazo.