Ex-diretor da Americanas relata dificuldade de emprego e abre bar na Rocinha

Publicado em 04/05/2025 às 19:45:14
Ex-diretor da Americanas relata dificuldade de emprego e abre bar na Rocinha

Fábio da Silva Abrate, ex-diretor financeiro da Americanas e um dos delatores no escândalo contábil da varejista, conforme a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), abriu o Brasa Boteco na Rocinha, Rio de Janeiro, após enfrentar dificuldades de recolocação profissional. Em depoimento aos procuradores, Abrate revelou que, desde sua saída da Americanas em 2023, também iniciou uma consultoria e teve uma breve passagem pela rede de moda Zinzane, conforme trechos da delação obtidos pela Folha.

O executivo descreveu um cenário desfavorável após deixar a Americanas, com sua imagem e empregabilidade comprometidas. Ele lamentou a forma como foi desligado da empresa, após 20 anos de carreira, em uma reunião com a presença apenas de advogados.

O Brasa Boteco, inaugurado em janeiro do ano passado, é resultado de uma sociedade com seu pai (20%) e um gerente de bares local (10%). Seis meses depois, Abrate adquiriu a participação do sócio minoritário, ficando com 80% do negócio ao lado do pai.

Procurado, Abrate e seus advogados não comentaram sobre a delação, mas, em nota, o ex-executivo detalhou o estudo que realizou para avaliar o potencial de mercado na Rocinha. Segundo ele, identificou a oportunidade de criar um estabelecimento que oferecesse um ambiente agradável, comida e bebida de qualidade, geração de empregos para moradores e preços justos, além de transmitir jogos de futebol e oferecer música ao vivo.

Na delação, feita em novembro de 2024, Abrate afirmou que o bar ainda não era lucrativo, com faturamento entre R$ 120 mil e R$ 130 mil. A decisão de empreender surgiu após constatar que a repercussão do caso Americanas dificultaria sua volta ao mercado como alto executivo, e a consultoria também não atraía clientes.

O delator relatou aos procuradores que a Zinzane, que já havia contratado outro ex-executivo da Americanas, o convidou para integrar a equipe. Inicialmente, a empresa propôs uma remuneração inferior a R$ 50 mil mensais, valor considerado baixo por Abrate para uma função de tempo integral. Após negociação, ele aceitou R$ 25 mil por algumas horas de dedicação, buscando complementar a renda com outros trabalhos.

Com a consultoria sem avançar, Abrate negociou um salário de R$ 100 mil mensais na Zinzane, conforme sua delação. No entanto, a Operação Disclosure da Polícia Federal, em junho de 2024, o fez se afastar da rede de moda e se concentrar no Brasa Boteco.

Em nota, Abrate confirmou a proposta de R$ 100 mil mensais na Zinzane, mas afirmou que não chegou a completar um mês de trabalho, pois iniciou suas atividades presenciais na segunda quinzena de junho de 2024, e a operação da PF ocorreu no dia 27 daquele mês. A Zinzane não se manifestou sobre o caso.