Festa dos Palhaços do Rio Vermelho: De brincadeira a Patrimônio Cultural Imaterial de Salvador

Publicado em 30/08/2025 às 03:06:26
Festa dos Palhaços do Rio Vermelho: De brincadeira a Patrimônio Cultural Imaterial de Salvador

O que começou como uma simples brincadeira entre amigos transformou-se em uma das tradições mais queridas do verão soteropolitano: a Festa dos Palhaços do Rio Vermelho. Mais do que uma folia, a iniciativa, que completou 15 anos em 2025, está a um passo de ser reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Salvador, um marco que visa salvaguardar e valorizar essa expressão genuinamente soteropolitana.

A presidente do Instituto Artístico e Sociocultural Palhaços do Rio Vermelho, Lúcia Menezes, uma das idealizadoras do movimento, relembra os primórdios da festa em 1986. Na época, cerca de 20 pessoas, incluindo seu irmão Rui Santana, criador do evento, reuniam-se na sua casa para sair fantasiados de palhaços pelas ruas. "Eram 20 pessoas, amigos, irmãos, na minha casa fazendo esse movimento, de sair fantasiado de palhaços na avenida. Passamos quatro anos assim, e foi crescendo, 20, 40, 80, 120 pessoas… Naquele momento eu falei: ‘Vamos dar uma segurada, porque já tá muito grande’", relata Lúcia.

A festa surgiu em um contexto onde o Carnaval soteropolitano se afastava das fantasias e abraçava os abadás. Os Palhaços do Rio Vermelho representaram uma resistência cultural, um resgate do lúdico em meio a um cenário cada vez mais comercial. "Naquele momento a gente estava muito na contramão porque a fantasia já tinha sumido, os blocos de índios já não tinham mais tanta força, tudo estava acontecendo tipo um rolo compressor. Só que em 2010, quando a gente saiu de palhaço nos Mascarados, a gente viu que poderia ir além. Mas não pensávamos nunca que chegasse aonde chegou. Quando eu penso em, 5 mil, 8 mil, 10 mil pessoas, me dá um frio na barriga", confessa.

Promovido pelo Instituto, o desfile gratuito, sem cordas e repleto de cores, música e performances, acontece sempre no penúltimo sábado antes do Carnaval, atraindo multidões. A festa evoluiu de um público majoritariamente mais velho para todas as gerações, com a presença crescente de crianças, que encontram na brincadeira um espaço de alegria e espontaneidade. "Nosso movimento não foi proposital, foi algo espontâneo que as pessoas se identificaram com isso, com o som das marchinhas, com essa brincadeira que existe, com perna de pau, com malabares. Foi espontâneo e não existe nada melhor na vida do que você saber que você é responsável ou saber que você proporcionou uma coisa tão espontânea. E a espontaneidade, eu acho, é o que faz acontecer para mim."

A festa já atrai participantes de diversas partes do interior do estado, mobilizando mais de 500 pessoas, entre voluntários e remunerados, para garantir a logística do evento. Lúcia destaca a importância do reconhecimento oficial para a consolidação e o fomento da festa. "Foi um salto grande que demos. A gente ser reconhecido como um movimento que agrega e que atende a demanda, a carência do que a sociedade, do que a comunidade precisa. A festa tem impacto cultural, além de fomentar o turismo, a economia. Não é só a brincadeira, nós movimentamos o comércio com a venda de fantasias, adereços, os ambulantes, os bares que estão lotados, então, se você somar tudo que está em volta desse movimento da gente, é realmente é muito forte sim."

A inclusão no calendário oficial da Prefeitura e a criação do Dia Municipal do Desfile dos Palhaços do Rio Vermelho prometem trazer mais apoio municipal em recursos, infraestrutura e logística, aliviando a carga financeira que muitas vezes recaiu sobre os organizadores. "São 15 anos de resistência, nós somos resistentes e como eu digo sempre eu não largo o osso. Eu estou desde o início e na luta, porque é uma batalha anual, é uma batalha grande para gente conseguir recursos, eu já botei muitas vezes no meu bolso, porque todo ano, tem essa ameaça de não sair. E fazendo parte do calendário oficial da Prefeitura, os recursos, a infraestrutura, a logística, passa a ter esse apoio municipal para acontecer. Não que eles vão pagar tudo, mas com isso, iremos receber uma ajuda de custo para a realização, o que é essencial."

Ser Patrimônio Imaterial de Salvador garantirá a salvaguarda do movimento, o respeito às comunidades envolvidas e a conscientização sobre a importância do patrimônio cultural imaterial. Além do entretenimento, o Instituto planeja expandir suas ações para a área social, com projetos voltados à educação e ao esporte, como a capacitação de costureiras, buscando gerar um impacto ainda maior na comunidade.