Governo atrasa lançamento de plataforma de hospedagem da COP30

O lançamento da plataforma oficial de hospedagem para a COP30, conferência de clima da ONU, sofre um atraso, gerando preocupação a pouco mais de quatro meses do evento em Belém. O governo brasileiro havia prometido ter o site de alojamento disponível até o fim de junho, mas o serviço ainda não foi implementado.
A demora na disponibilização da plataforma intensifica as críticas de países e organizações não governamentais (ONGs) em relação aos altos preços de hospedagem na capital paraense, que se tornaram a principal queixa de órgãos nacionais e internacionais. O compromisso com a plataforma foi reafirmado durante as Reuniões Climáticas de Junho, em Bonn, Alemanha, um evento preparatório para a conferência.
Em maio, a empresa Bnetwork foi anunciada como a plataforma oficial de hospedagem, com o objetivo de centralizar as reservas e facilitar o acesso dos participantes. A plataforma deve iniciar com cerca de 6.000 leitos, com novas inclusões semanais, e o Brasil se comprometeu a disponibilizar mais de 29 mil quartos e 55 mil leitos, majoritariamente através de aluguéis de curto prazo. Paralelamente, duas embarcações de cruzeiro, com capacidade para aproximadamente 6.000 leitos, deveriam estar disponíveis para reserva até o mesmo prazo, que também não foi cumprido.
Questionada pela Folha de S.Paulo, a Secretaria Extraordinária da COP30 declarou que o trabalho está em andamento, mas não especificou uma data para a divulgação da página, afirmando que "ajustes finais estão sendo feitos para garantir a melhor experiência aos participantes".
O governo brasileiro já recebeu manifestações oficiais de preocupação de diversos países sobre os elevados custos de hospedagem e outras questões logísticas para a COP30. Em resposta, o governo afirma que a plataforma concentrará opções com "preços mais acessíveis", visando diárias em torno de US$ 100 (cerca de R$ 550). Contudo, a inflação nos aluguéis em Belém já impacta até mesmo a equipe da Secretaria Extraordinária da COP30, que enfrenta orçamentos exorbitantes e cogita hospedagem em base militar.
A 30ª conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas acontecerá de 10 a 21 de novembro, precedida por uma cúpula preparatória para chefes de Estado e de governo em 6 e 7 de novembro, ambas em Belém.
As polêmicas sobre os preços abusivos de hospedagem em Belém desencadearam um conflito entre o setor hoteleiro e o governo federal. A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou os grandes hotéis da cidade. Em contrapartida, o Sindicato de Hotéis e Restaurantes de Belém e Ananindeua negou acesso a informações, acusando o governo de tentar "imposição de preços" e "vulneração de contratos legítimos", considerando a solicitação de informações como uma intervenção indevida na autonomia da iniciativa privada. A Senacon, por sua vez, aponta que a "elevação desproporcional de preços sem justificativas claras" configura desequilíbrio na relação de consumo, com indicações de aumentos superiores a 1.000% em relação à média histórica. Recentemente, governo, corretoras e imobiliárias de Belém assinaram um termo para estabelecer boas práticas de aluguel durante a COP30.