'Hoje é dia sagrado da soberania', diz Lula após sanção a Moraes e confirmação de tarifas
Em uma declaração enfática, o Presidente Lula (PT) classificou a quarta-feira, 30, como um "dia sagrado para a soberania", em repúdio à imposição de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, oficializada por meio de um decreto assinado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A fala do presidente ocorreu durante a sanção de um projeto de lei que, além de proibir o uso de animais em testes de cosméticos, eleva as multas por infrações. Lula iniciou seu pronunciamento defendendo a "soberania animal" e, em seguida, anunciou que se reuniria para tratar de uma questão de "outra soberania, a do Brasil".
"Eu tô saindo daqui com pressa porque eu vou me reunir ali para defender outra soberania, a soberania do povo brasileiro em função das medidas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos. Então, hoje para mim é o dia sagrado da soberania, duas soberanias de coisas que eu gosto: a dos animais e a dos seres humanos", declarou o presidente.
Diante da nova medida punitiva, Lula convocou seus ministros para uma reunião de emergência no Palácio do Planalto. O encontro, agendado para o fim da tarde desta quarta-feira, terá como pauta principal a discussão sobre o "tarifaço" imposto pelo governo Trump às exportações brasileiras, buscando definir a extensão da sobretaxa e possíveis exceções. As tarifas, anunciadas em 9 de julho, são as mais elevadas entre as impostas a países exportadores para os EUA, e o comunicado oficial americano justifica a medida como uma resposta a "políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos", fazendo menção ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a suposta perseguição pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
O decreto em questão, no entanto, isenta diversos produtos, incluindo alguns alimentos, minérios, e itens dos setores de energia e aviação civil. Essas exceções tiveram um impacto positivo no mercado financeiro, com a Embraer registrando alta de 10% e o dólar recuando após o anúncio.
Ainda na mesma quarta-feira, o governo americano anunciou sanções financeiras direcionadas ao ministro Alexandre Moraes, do STF, com base na chamada Lei Magnitsky, que visa combater graves violações aos direitos humanos. A aplicação desta legislação a um membro de uma Suprema Corte é inédita. A medida, publicada no site do Tesouro americano, formaliza o congelamento de quaisquer bens ou ativos de Moraes nos EUA e pode impedir transações financeiras em dólares com o ministro, afetando inclusive bandeiras de cartões de crédito como Mastercard e Visa.
A interferência de Trump na política interna e nos processos judiciais brasileiros já foi alvo de críticas públicas por parte de Lula e de membros de seu governo. Atualmente, o Vice-Presidente da República, Geraldo Alckmin, tem sido o responsável pela interlocução institucional com os Estados Unidos e com representantes do setor produtivo brasileiro para negociar a questão desde seu anúncio inicial.
