MP-BA instaura procedimento para apurar a morte do guia turístico morto em operação em Caraíva

Publicado em 15/05/2025 às 15:05:14
MP-BA instaura procedimento para apurar a morte do guia turístico morto em operação em Caraíva

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) instaurou um Procedimento Investigativo Criminal (PIC) para conduzir uma apuração independente sobre a morte do guia turístico Victor Cerqueira Santos Santana, de 28 anos. O falecimento ocorreu durante uma operação da Polícia Militar no distrito de Caraíva, em Porto Seguro, no último sábado (10).

A ação policial resultou na morte de Victor e também de Davisson Sampaio dos Santos, de 23 anos, conhecido como "Alongado". Este último foi apontado pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) como membro da facção criminosa "Anjos da Morte" (ADM). No entanto, a versão oficial dos eventos é veementemente contestada por familiares, moradores e comerciantes da região, que asseguram que Victor não possuía qualquer ligação com atividades criminosas.

Segundo uma nota divulgada pela comunidade local, Victor, amplamente conhecido como "Vitinho de Luzia", trabalhava em uma pousada da área, atuando como guia turístico e prestador de serviços gerais. No dia do ocorrido, ele teria saído para buscar hóspedes à beira do rio Caraíva. Minutos depois, foi abordado pelas forças policiais. Testemunhas oculares relatam que Victor foi levado ainda com vida, algemado, descalço e vestindo apenas bermuda, por volta das 18h. Seu corpo foi posteriormente entregue ao Instituto Médico Legal (IML) e, conforme descrição da comunidade, apresentava múltiplos e severos sinais de violência, incluindo fraturas no tórax, hematomas no rosto, um ferimento de faca na costela e um tiro na jugular, disparado de cima para baixo – características que, para a comunidade, apontam para tortura e execução sumária.

Uma das linhas de investigação levantadas considera a possibilidade de Victor ter sido confundido com João Vitor Sampaio de Souza, também apelidado de "Vitinho". Este indivíduo possui mandado de prisão e antecedentes criminais, e continua foragido. Victor, por outro lado, não registrava antecedentes criminais e, poucos dias antes de sua morte, havia registrado um boletim de ocorrência por racismo, após ser acusado injustamente de furto ao tentar devolver uma escada que encontrou.

Moradores da localidade também denunciam o que consideram tentativas de obstrução da justiça. Eles afirmam que câmeras de segurança na travessia do rio foram desativadas antes do início da operação, e que agentes recolheram imagens de estabelecimentos comerciais próximos, levantando sérias suspeitas sobre a conduta e transparência da investigação oficial.

A comunidade de Caraíva, onde Victor era muito querido, tem se mobilizado em protestos, exigindo justiça e esclarecimentos. Em nota, a família de Victor declarou que não aceitará versões oficiais que desconsiderem os fatos apurados e cobra uma investigação célere, completamente independente e que resulte em responsabilização exemplar. "É inaceitável que civis indefesos paguem com a vida por operações policiais violentas e descoordenadas. Victor era um homem trabalhador, alegre, honesto e sem qualquer vínculo com o crime. O que ocorreu foi uma execução. E isso não pode passar impune", manifestaram os familiares.

O MP-BA confirmou que a instauração do procedimento visa acompanhar as investigações relacionadas à operação policial que culminou na morte do guia turístico. A instituição informou que, na última segunda-feira, 12 de fevereiro, formalizou o procedimento para monitorar de perto as investigações sobre a ação policial em Caraíva.

A Secretaria da Segurança Pública da Bahia, por sua vez, informou em nota que o caso está sob investigação, destacando que se trata de um procedimento padrão em situações de mortes decorrentes de confrontos policiais. A SSP detalhou que a operação, realizada por Forças Estaduais e Federais, tinha como alvo um grupo criminoso envolvido com tráfico de drogas e armas, homicídios, roubos, lavagem de dinheiro e corrupção de menores. Segundo a SSP, dois homens, um deles com mandado de prisão, foram atingidos após um confronto relatado pelas equipes e, apesar de socorridos, não resistiram. Uma terceira pessoa foi presa. A secretaria acrescentou que armas de fogo, munições e drogas foram apreendidas durante a ação. A SSP reitera que a ocorrência está sendo investigada tanto pela Polícia Civil quanto pela Corregedoria da Polícia Militar, conforme praxe em casos de óbito em confronto com agentes do Estado.