Salvador terá primeira escola dedicada ao Samba Junino: "Pontes entre passado e futuro"

Publicado em 17/06/2025 às 12:04:50
Salvador terá primeira escola dedicada ao Samba Junino: "Pontes entre passado e futuro"

Salvador ganha a primeira escola dedicada à arte do Samba Junino, tradição que evoluiu do samba de roda e se consolidou como uma das manifestações centrais do São João na capital baiana. O espaço, focado na formação e inclusão social, oferecerá oficinas gratuitas de percussão, canto, violão e expressão corporal.

A nova sede do Instituto Cultural e Carnavalesco MUCUM’G, localizada na Rua Padre Domingos de Brito, 4 D, no bairro do Garcia, será o palco dessa iniciativa. A inauguração está marcada para esta terça-feira (17), às 16h.

Nonato Sanskey, fundador do MUCUM'G, destaca a inspiração na singularidade rítmica, estética e simbólica da Bahia para a missão do Instituto, que visa preservar, inovar e difundir as tradições culturais de matriz africana. "Da teatralidade da puxada de rede à intensidade do maculelê, passando pela musicalidade ancestral do samba e a energia ritual da capoeira, o Instituto constrói pontes entre passado e futuro, território e identidade", afirma Sanskey.

Reconhecido como patrimônio cultural de Salvador desde 2018, o Samba Junino tem sido objeto de pesquisa acadêmica. Gustavo Melo, professor de Música e Mestre em Etnomusiologia pela UFBA, explicou em entrevista recente que o estilo tem raízes no samba de roda e apresenta proximidade com ritmos de terreiros, como o Cabila, e o samba duro.

A delimitação do Samba Junino é considerada crucial para sua sobrevivência. Vagner Shrek, gerente de projetos da Liga de Samba Junino, fundada em 2011 e que atua em 21 dos 171 bairros de Salvador, ressalta suas características distintivas. "O samba junino não é qualquer grupo de samba que se manifesta no período junino. Ele tem características próprias do segmento, a utilização do timbal, do tamborim, do surdo, é a característica do instrumento. A questão das indumentárias, o samba junino geralmente ele traz temas para a rua", explica Shrek.

Jorge Bafafé, idealizador do Festival de Samba Duro Junino do Engenho Velho de Brotas, evento que celebra 47 anos em 2025, reforça a distinção do estilo como uma resistência cultural afro-brasileira, diferenciando-o de outras manifestações musicais de junho. "Somos diferenciados até para as suas músicas, como é cantada, é uma coisa ancestral mesmo. São músicas feitas com a nossa identidade, falando da nossa terra, falando do nosso convívio, no sentido de divulgar mesmo o São João da gente. Não é um São João que tem sanfona, zabumba, é um São João que tem tambores", pontua Bafafé. Ele acrescenta que a denominação "Samba Duro Junino" visa justamente demarcar o território e garantir a participação exclusiva de grupos alinhados com as características próprias do estilo, distanciando-o do pagode.

Com o propósito de propagar essa arte, a 1ª Escola de Samba Duro Junino de Salvador surge como um agente transformador. "O Instituto MUCUM’G firma-se como um agente transformador e um centro de valorização da cultura baiana, atuando como elo entre a tradição e a inovação artística", reforça Nonato Sanskey. Além das atividades na escola, o Instituto planeja dar continuidade a encontros, seminários e ações mobilizadoras, promovendo o diálogo e a participação da sociedade civil em torno do Samba Junino e outras manifestações culturais.