Transplante Múltiplo: Entenda Procedimentos Raros Como o de Faustão e Quando São Indicados

Procedimentos de transplante simultâneo, que envolvem a substituição de mais de um órgão sólido, embora não sejam comuns, podem ocorrer e exigem alta complexidade. O caso de Faustão, que em uma única cirurgia recebeu um novo fígado e passou por um retransplante renal, ilustra esse tipo de intervenção.
Esses transplantes múltiplos são indicados principalmente quando há falência de dois ou mais órgãos. No entanto, existem situações mais específicas, como doenças metabólicas que afetam um órgão, como o rim, e que, a médio prazo, poderiam levar à sua perda se o fígado, que possui o erro metabólico, não for transplantado conjuntamente. Um exemplo é um paciente com doença hepática que desenvolve insuficiência renal dialítica e, consequentemente, necessita de um transplante simultâneo de fígado e rim.
Outra combinação frequente é o transplante de pâncreas e rim em pacientes com diabetes, sendo este o tipo mais comum de transplante múltiplo. Menos recorrentes são os procedimentos que associam coração e fígado, ou pulmão e fígado. Em alguns casos, após um transplante bem-sucedido, o outro órgão pode vir a apresentar disfunção grave, exigindo uma nova intervenção.
"É o paciente que já é transplantado de fígado e, ao longo do tempo, tem o rim prejudicado. Há pacientes também que fazem transplante de intestino associado a outros órgãos. Aí transplanta o intestino e o fígado junto com o pâncreas. O transplante de múltiplos órgãos chamamos de multivisceral", explica Wellington Andraus, chefe do Serviço de Transplante de Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas de São Paulo.
A maioria dos pacientes submetidos a transplante de fígado mantém boa qualidade de vida sem complicações em outros órgãos. Contudo, uma pequena parcela pode apresentar problemas renais leves preexistentes que se agravam após o transplante hepático. Os imunossupressores, embora essenciais, podem, em alguns casos, afetar a função renal, levando à necessidade de um transplante renal futuro, embora isso ocorra em uma minoria.
Em geral, o prognóstico para pacientes que realizaram múltiplos transplantes é positivo, dependendo da gravidade do quadro clínico e da funcionalidade dos órgãos transplantados. A recuperação pós-operatória pode ser mais lenta e apresentar riscos, mas os resultados podem ser "fantásticos", segundo Marcus Eduardo Martins da Costa, coordenador da Cirurgia Geral e da Equipe de Transplante de Órgãos da Rede Mater Dei de Saúde.
As taxas de sucesso para transplante de fígado são altas, com sobrevida de um ano próxima ou superior a 80% e de cinco anos acima de 70%. Mesmo em transplantes múltiplos, como fígado e rim, os resultados são considerados bons.
Para aqueles que desejam ser doadores de órgãos, é fundamental manifestar essa intenção à família, mesmo que a vontade já tenha sido expressa em documentos oficiais.