Trump diz que tanto Israel quanto Irã violaram cessar-fogo

Publicado em 24/06/2025 às 13:07:29
Trump diz que tanto Israel quanto Irã violaram cessar-fogo

O cessar-fogo entre Israel e o Irã, anunciado pelo presidente Donald Trump, entrou em vigor nesta terça-feira (24), mas já demonstra fragilidade. Ambos os rivais se acusam mutuamente de violar a trégua com ataques retaliatórios, e Trump declarou que o acordo foi rompido. Em declarações irritadas a repórteres na Casa Branca, antes de embarcar para uma cúpula da OTAN, Trump expressou sua insatisfação com a situação, afirmando que os países "não sabem o que diabos estão fazendo".

A fragilidade do acordo era previsível, e as próximas horas serão cruciais para determinar se as ações recentes são apenas espasmos de um processo tenso ou o prenúncio de uma nova escalada nas hostilidades, que se intensificaram em 13 de abril. Trump manifestou descontentamento tanto com o Irã quanto com Israel, focando suas críticas no último, e exigiu que o Estado judeu se acalmasse, citando um ataque massivo de bombas logo após a aceitação do acordo. Em sua rede social Truth Social, ele implorou a Israel para não lançar mais bombas, classificando tal ato como uma violação grave e pedindo o retorno de seus pilotos. No entanto, relatórios indicam um ataque a um radar próximo a Teerã e explosões na mídia local.

Horas antes do início oficial do cessar-fogo, à meia-noite em Washington, Trump havia feito um apelo aos beligerantes para que respeitassem o acordo, que ambos haviam formalmente aceito. A trégua foi precedida por um ataque israelense com bombardeiros B-2 a instalações nucleares iranianas, que gerou receios de uma escalada global. A retaliação iraniana, contudo, foi considerada simbólica, com 14 mísseis lançados de forma inócua contra uma base americana no Qatar, em uma ação que foi previamente comunicada a Washington e Doha, sugerindo um caráter de propaganda. Trump expressou satisfação, agradeceu ao Irã e pediu o fim do conflito, incluindo ao aliado Benjamin Netanyahu. O cessar-fogo, então anunciado, previa uma pausa de 12 horas para o Irã, seguida por uma igual para Israel.

No entanto, a realidade se impôs antes mesmo do início do acordo, com um ataque iraniano em Beersheba, sul de Israel, resultando na morte de quatro pessoas, descrito por Teerã como uma "última salva" de 14 mísseis. Após o início da trégua, forças israelenses registraram o lançamento de dois mísseis do Irã, que ativaram alarmes no norte do país. O Irã negou os lançamentos pós-trégua, o que levou o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, a ordenar uma retaliação, ameaçando atacar não apenas alvos militares, mas também alvos do regime. Segundo o Irã, essa retaliação ocorreu às 9h locais, com três ataques distintos. Israel não confirmou a ação, e a troca de acusações deve prosseguir, com incertezas sobre uma futura acomodação além da desconfiança. O Qatar, que se viu no centro do conflito, expressou novamente sua insatisfação com a ação iraniana, recebendo desculpas do presidente iraniano Masoud Pezeshkian ao emir Tamim bin Hamad al-Thani. Aproveitando o clima de diálogo, o governo qatari mencionou a possibilidade de avançar em um acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, uma mediação que o país tenta realizar em conjunto com o Egito. A guerra na Faixa de Gaza, iniciada após o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, foi o gatilho para a série de conflitos que culminaram no ataque de Israel ao Irã.

As causas subjacentes da disputa entre Israel e Irã permanecem em aberto. Apesar dos danos significativos às suas instalações nucleares, os 400 kg de urânio enriquecido a 60% que a ONU aponta estarem em posse do Irã continuam seguros. Embora os iranianos possam ter perdido ultracentrífugas em instalações como Fordow, Natanz e Isfahan, essenciais para o enriquecimento a 80% necessário para uma ogiva nuclear, outros equipamentos podem existir no país, e mesmo com o enriquecimento atual, é possível a criação de "bombas sujas" perigosas. Trump, por enquanto, ignora essa questão, insistindo na obliteração do programa iraniano. O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que o assunto ainda requer negociações, que já ocorriam entre EUA e Irã antes da guerra. Essa fase do conflito resultou em mais de 610 iranianos e 28 israelenses mortos, segundo os países, além de milhares de feridos e deslocados. Em Israel, a destruição em algumas áreas é sem precedentes.

A trégua proposta por Trump visava permitir que todas as partes reivindicassem vitória, mas a posição do Irã sugere uma derrota militar. Israel teve suas capacidades de defesa antiaérea degradadas, tornando o país vulnerável a ataques aéreos. Sua força de mísseis balísticos de médio e longo alcance, estimada em 2.000 unidades antes do conflito, teve seus sistemas de lançamento afetados pelos bombardeios, com uma redução significativa no número de mísseis lançados nas últimas retaliações. O país ainda mantém capacidades de disrupção no Golfo Pérsico e um arsenal de mísseis de curto alcance, mas sua Força Aérea parece ter sido severamente impactada. Um acordo estratégico com a Rússia prevê a entrega de caças e sistemas de defesa, mas o ritmo dessa entrega é incerto. Na segunda-feira (23), o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, buscou apoio de Vladimir Putin, recebendo apenas palavras de apoio, reiteradas pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que enfatizou a importância da "posição da Rússia" para manter a boa vontade de Trump em relação à guerra na Ucrânia.