Trump sobre negociação territorial na Ucrânia: "cabe à Ucrânia decidir"

Às vésperas de sua primeira cúpula com Vladimir Putin em seu atual mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que caberá à Ucrânia a prerrogativa de decidir quais territórios negociar em busca de paz com a Rússia. Em declarações a bordo do Air Force One, a caminho de Anchorage, no Alasca, Trump expressou o desejo de um cessar-fogo rápido, afirmando que "não ficarei feliz se não for hoje".
A fala de Trump surge como uma tentativa de refutar acusações de que ele próprio definiria o destino da Ucrânia em um encontro bilateral com Putin, sem a participação do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, ou de seus aliados europeus. Estes últimos temem que as ambições territoriais russas ultrapassem as fronteiras atuais da Ucrânia.
O presidente americano moderou sua retórica anterior, que sugeria a necessidade de trocas territoriais para o fim da guerra. "Elas [as trocas] serão discutidas, mas eu tenho que deixar a Ucrânia tomar a decisão. Mas eu não estou aqui para negociar pela Ucrânia, estou aqui para colocá-los [Putin e Zelenski] à mesa", explicou Trump, que almeja uma reunião subsequente entre os líderes rivais.
Por sua vez, Zelenski, que se mostrou inicialmente exasperado por não ser incluído na cúpula, moderou suas críticas. Ele expressou a esperança de que o encontro possa abrir "o caminho para uma paz justa" e as conversas tripartites, enfatizando que "é hora de acabar a guerra, e os passos necessários têm de ser tomados pela Rússia. Estamos contando com os EUA", escreveu em sua conta no Telegram.
Trump reiterou a ameaça de "consequências severas" caso Putin não demonstre interesse pela paz, possivelmente através de sanções direcionadas a parceiros externos da Rússia, como China, Índia e Brasil.
Em um movimento que gerou controvérsia, Trump conversou pela primeira vez em seu mandato com o presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, a quem se referiu como um "respeitado presidente".
O líder americano também comentou a atual posição militar russa, sugerindo que Putin pode estar interpretando equivocadamente a vantagem no campo de batalha como um trunfo para negociações mais favoráveis. "Eu acho que eles estão tentando negociar [com a ofensiva]. Ele está tentando montar o palco. Na sua mente, isso o ajuda a fazer um acordo melhor. Na verdade isso o prejudica, mas em sua cabeça ele conseguirá um acordo melhor se continuar a matança", analisou.
Apesar das críticas, Trump elogiou Putin, descrevendo-o como "um cara esperto, que vem fazendo isso há muito tempo. Então nós nos damos, há um bom nível de respeito de ambos os lados, sabe, algo virá disso".
Desde o anúncio da cúpula, observou-se uma relativa diminuição nos ataques aéreos contra cidades ucranianas, embora avanços em solo russo tenham sido registrados, especialmente em Donetsk.
No dia da cúpula, houve um aumento na atividade ucraniana, com ataques de drones visando diversas regiões russas, resultando em mortes e ferimentos, além de um incêndio em uma refinaria no sul do país. Na Ucrânia, além da ofensiva em Donetsk, ataques com drones e artilharia causaram mortes em várias regiões, mas os temidos lançamentos de mísseis balísticos em larga escala não ocorreram.
A cúpula está agendada para as 11h30 locais (16h30 de Brasília) em uma base militar em Anchorage. A expectativa é de que Trump receba Putin na pista de pouso, seguido por conversas iniciais com intérpretes, uma reunião expandida com delegações, café da manhã e uma coletiva de imprensa, que pode ou não ser conjunta, segundo a Casa Branca. O Kremlin estima que o encontro possa durar até sete horas.
Na única cúpula realizada no primeiro mandato de Trump em 2018, a entrevista conjunta foi marcada por declarações controversas do presidente americano, que demonstrou mais confiança em Putin do que em seus próprios serviços de inteligência em relação à interferência russa nas eleições de 2016.
A delegação russa contará com ministros de Relações Exteriores, Defesa e Finanças, além de assessores internacionais. Do lado americano, estarão presentes secretários de Estado, Defesa, Tesouro e Comércio, o negociador de comércio, Howard Lutnick, e o diretor da CIA, John Ratcliff, entre outros assessores e parlamentares.
A presença de figuras econômicas em ambas as comitivas sinaliza o interesse de Putin em negociar não apenas a questão ucraniana, mas também a retomada das relações com os Estados Unidos, um ponto elogiado por Trump. Kirill Dmitriev, um dos representantes russos, comentou de forma jocosa sobre o tamanho da delegação americana: "Emboscada. Estamos em menor número", escreveu em sua rede social.