Vasco da Gama e demais clubes da 777 Partners terão ações leiloadas nesta sexta-feira

Publicado em 05/06/2025 às 15:46:50
Vasco da Gama e demais clubes da 777 Partners terão ações leiloadas nesta sexta-feira

O futuro de seis clubes de futebol, incluindo potências como Vasco da Gama, Genoa e Sevilla, além de Hertha Berlin, Standard Liège e Red Star, começou a ser definido nesta sexta-feira (5). Desde o meio-dia (horário de Brasília), ocorre um leilão público nos Estados Unidos para a venda de todas as ações remanescentes pertencentes ao grupo 777 Partners, empresa que enfrenta uma grave crise financeira.

A iniciativa do leilão é um desdobramento direto do colapso da 777 Partners, que acumulou dívidas milionárias após anos de investimentos considerados de alto risco em diversas áreas, com destaque para o futebol, mas também incluindo aviação, fintech e financiamento de litígios. Documentos públicos revelam que grande parte desses investimentos foi, na verdade, financiada pela seguradora americana A-CAP, contrariando declarações dos sócios Josh Wander e Steven Pasko de que utilizavam apenas recursos próprios. A estratégia de alavancagem falhou, levando a empresa a uma rota que aparenta ser irreversível de falência.

A origem específica do leilão remonta a um empréstimo inicial de US$ 23 milhões concedido pela A-CAP a uma subsidiária da 777. Diante do aumento das necessidades de capital para manter as operações dos clubes, esse valor foi renegociado e expandido inúmeras vezes, chegando a US$ 350 milhões no final de 2024.

Com a inadimplência da 777, a A-CAP decidiu executar as garantias associadas ao empréstimo, que incluem as participações acionárias do grupo nos seis clubes. Segundo documentos judiciais, a venda ocorrerá "ao maior lance ou à melhor proposta qualificada", sob a avaliação exclusiva da ACM Delegate, uma afiliada da A-CAP. Contudo, a seguradora reserva-se o direito de cancelar ou adiar a venda sem aviso prévio.

Este leilão também intensificou uma disputa judicial preexistente. A Leadenhall Capital Partners, outro credor relevante da 777, acusa a A-CAP de desviar ativos para evitar o pagamento de uma dívida superior a US$ 650 milhões. A Leadenhall protocolou uma moção em Nova York por descumprimento de ordem judicial, alegando que a A-CAP violou uma liminar que proibia a movimentação dos ativos em questão.

Embora não solicite a suspensão do leilão, a Leadenhall exige que os ativos sejam negociados por seu valor justo de mercado e que os recursos gerados sejam distribuídos entre todos os credores, e não exclusivamente para a A-CAP. A empresa também pleiteia sanções compensatórias de US$ 11,8 milhões, um valor que considera "uma gota no oceano" frente aos supostos lucros que a seguradora teria desviado da 777 Partners.

O cenário para a venda, contudo, é desafiador. As participações acionárias estão fragilizadas por litígios em curso em quase todos os clubes. No Brasil, o controle do Vasco pela 777 já foi retirado por decisão judicial. No Genoa, as ações da 777 foram diluídas para menos de 25% após uma capitalização que transferiu o controle para outro grupo. Hertha Berlin e Red Star enfrentaram sérios riscos de rebaixamento em suas ligas, enquanto o Standard Liège atravessa uma crise financeira, agravada pelo fracasso de uma negociação com um consórcio belga, que supostamente teria apoio da própria A-CAP.

Adicionalmente, o portfólio de clubes carrega vultosas dívidas, o que explica o insucesso de tentativas anteriores da A-CAP de vender os ativos individualmente. A única venda concretizada, a do Melbourne Victory, ocorreu sem retorno financeiro para a 777.

Diante deste quadro, cresce a expectativa de que a própria A-CAP utilize um "lance de crédito", mecanismo que permite a um credor usar o valor da dívida para adquirir ativos, sem necessidade de novo desembolso. O fato de o aviso oficial do leilão ter sido divulgado tardiamente, em 29 de maio, fora do prazo usual de 45 dias, levanta questionamentos sobre o real interesse da seguradora em atrair compradores externos.

Mesmo que a venda se concretize, paira o risco de que uma eventual declaração de falência da 777 Partners nos Estados Unidos leve um administrador judicial a anular o negócio, dependendo das circunstâncias e da pressão dos credores. Fontes próximas ao processo indicam que grupos de credores estão se articulando para forçar judicialmente essa falência.

O leilão se desenrola em meio a investigações conduzidas pelo Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) e pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC) tanto contra a 777 Partners quanto contra a A-CAP. Os órgãos federais apuram suspeitas de má gestão, fraude e possíveis irregularidades no uso de recursos de seguradoras.

Paralelamente, a A-CAP enfrentou processos dos departamentos de seguros dos estados de Utah e Carolina do Sul. Estes reguladores chegaram a determinar a suspensão das operações da empresa devido à sua situação financeira, diretamente impactada pelos empréstimos à 777 Partners. Contudo, a seguradora obteve uma decisão favorável na Carolina do Sul e, de forma notável, chegou a um acordo com Utah, resultando no arquivamento do processo em 23 de maio. Com isso, a A-CAP obteve luz verde dos reguladores estaduais para prosseguir com o leilão.