Alegado por defesa de Collor, transtorno bipolar pode afetar cotidiano de pacientes e é diagnosticado na juventude

Publicado em 06/05/2025 às 03:03:14
Alegado por defesa de Collor, transtorno bipolar pode afetar cotidiano de pacientes e é diagnosticado na juventude

O transtorno afetivo bipolar, marcado por depressão e oscilações de humor geralmente sem causa aparente, foi a quarta causa de afastamento de trabalhadores baianos em 2024, somando 1.494 casos. Dados do Ministério da Previdência Social indicam que, em todo o Brasil, foram 51.314 afastamentos.

A condição também foi citada pela defesa do ex-presidente Fernando Collor ao solicitar prisão domiciliar no Supremo Tribunal Federal (STF). Os advogados argumentaram ainda sobre a idade avançada do ex-senador, 75 anos, e outras comorbidades graves, como Parkinson, alegando que as doenças o impediriam de cumprir atividades na prisão.

Para entender melhor a doença e seus impactos, o BN conversou com a psiquiatra Amanda Galvão, professora da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA) e supervisora do Ambulatório de Transtorno Bipolar do Hospital das Clínicas/UFBA/Ebserh.

A médica explicou que o transtorno se manifesta por euforia, agitação e mudanças rápidas de humor. "O transtorno bipolar clássico ou tipo I se caracteriza por episódios recorrentes de mania ou euforia, definidos por vários dias de elevação do humor (euforia ou irritabilidade intensa) e aumento da autoestima, aumento da energia dirigida a atividades do dia a dia (trabalho, estudo, lazer), redução da necessidade de dormir, agitação psicomotora e/ou agressividade, descontrole de impulsos para compras/gastos, uso de álcool ou drogas, jogos. Também pode ocorrer ideias de grandeza, riqueza e de poder fora da realidade. Além dos episódios de mania, a pessoa pode ter episódios de depressão", detalhou.

A especialista relatou que a doença costuma se desenvolver entre o final da adolescência e o início da vida adulta, embora possa surgir na infância ou após os 50-60 anos, em casos menos frequentes.

A mudança no comportamento habitual é um dos principais sinais, podendo afetar a interação e integração social do indivíduo. "É possível identificar através dos sinais e sintomas, da mudança do comportamento habitual da pessoa, do prejuízo da mudança no funcionamento social e laboral. Em geral, são familiares que percebem a mudança, a própria pessoa não percebe em função de se sentir muito bem, eufórica, com aumento da autoestima ou fora da realidade em função das ideias de grandeza", observou.

A psiquiatra ressaltou que o transtorno bipolar pode prejudicar o cotidiano dos pacientes, justificando a necessidade de tratamento. "Os sinais e sintomas prejudicam a vida da pessoa como com aquisição de dívidas por gastos desmedidos, exposição social/constrangimento, exposição a riscos como direção imprudente e uso de drogas, faltas ao trabalho ou comportamento inadequado no trabalho", afirmou.

Sobre o caso de Collor, Amanda Galvão esclareceu que o transtorno, por si só, não impede que uma pessoa responda por um crime ou realize outras atividades. Cada caso deve ser analisado individualmente. "Simplesmente ter transtorno bipolar, desde que com bom controle com uso de medicamentos e outras intervenções terapêuticas, não necessariamente significa que a pessoa não possa responder ou cumprir uma determinada penalidade. Varia de caso para caso, depende como a doença, transtorno bipolar, se manifesta. Não existe uma resposta única ou definitiva. Isso tem que ser avaliado em cada caso. Tem pessoas que têm transtorno bipolar e vivem sem qualquer restrição ou dificuldade, se é uma doença de mais fácil controle e se a pessoa faz um tratamento regular e completo", concluiu.