Ex-presidente do INSS pediu à PF dados sobre fraudes antes de ser afastado, mas teve solicitação negada

O ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, buscou informações sigilosas da Polícia Federal sobre investigações de descontos irregulares em benefícios previdenciários, meses antes de ser afastado do cargo. O pedido formal, feito em outubro de 2024 ao diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, solicitava dados sobre apurações relacionadas a reportagens que expunham um suposto esquema de fraudes envolvendo a Ambec.
Stefanutto justificou o pedido, alegando que o INSS precisava das informações para embasar medidas administrativas, apesar das suspeitas não envolverem diretamente o instituto. A resposta da PF, entretanto, chegou apenas cinco meses depois, negando o compartilhamento sob o argumento de que as investigações estavam sob responsabilidade de órgãos estaduais e que, se houvesse apurações internas, estariam sob sigilo.
O documento da PF circulou internamente no INSS no mesmo dia em que a Operação Sem Desconto, deflagrada pela PF e CGU, resultou no afastamento de Stefanutto e outros dirigentes, suspeitos de omissão diante de um esquema de descontos indevidos que movimentou cerca de R$ 6,3 bilhões.
Nos bastidores, os dirigentes afastados argumentam que o pedido de informações à PF demonstra iniciativa da presidência do INSS em combater as irregularidades, enfraquecendo as acusações de inação. Contudo, integrantes da PF alegam que o compartilhamento de informações não seria possível caso o próprio presidente do INSS estivesse envolvido nas investigações.
O diretor-geral da PF evitou detalhar os motivos do afastamento durante coletiva de imprensa, afirmando que a medida foi baseada em evidências colhidas a partir de um inquérito iniciado em junho de 2024. A operação ocorreu após alertas ignorados, incluindo uma auditoria do TCU que detectou irregularidades em R$ 91 bilhões em descontos consignados e a identificação de falhas graves pela CGU em diversas entidades associativas.