Glauber Braga conta bastidores da cassação, greve de fome e futuro da esquerda brasileira; confira entrevista

Publicado em 17/05/2025 às 03:05:14
Glauber Braga conta bastidores da cassação, greve de fome e futuro da esquerda brasileira; confira entrevista

O processo de cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) na Câmara dos Deputados ganhou destaque nacional nos últimos meses, gerando debates e dividindo opiniões. Um ponto de virada na disputa foi a greve de fome e o período em que o parlamentar dormiu nas dependências do Congresso, estratégia que, segundo o texto original, lhe garantiu um prazo adicional para a defesa, após um movimento de comoção atribuído ao atual presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Após essa fase, Braga anunciou uma série de manifestações pelo país, buscando mobilizar apoiadores e aumentar a pressão sobre o Congresso em relação à decisão sobre seu futuro político. Foi nesse contexto que, em Salvador, o deputado concedeu uma entrevista exclusiva, onde detalhou bastidores da greve de fome, suas projeções para a manutenção do mandato e análises sobre o cenário da esquerda brasileira.

O deputado expressou otimismo quanto à permanência no cargo, mencionando a pressão interna sobre aliados do deputado Arthur Lira (PP-AL), a quem ele aponta como principal articulador do processo de cassação. Em sua visão, o processo é uma combinação de vingança pessoal de Lira – que não aceitaria contestações – e um recado aos demais parlamentares. Braga reiterou ser o autor da denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre irregularidades na liberação de emendas parlamentares que resultou no bloqueio de R$ 4,2 bilhões e investigação, sugerindo ser este o motivo da retaliação. Ele citou a fala de aliados de Lira sobre o alto "preço político" da cassação.

O deputado justificou a greve de fome como uma ação para "chamar atenção", um objetivo que ele considera plenamente alcançado. Segundo Braga, era crucial que a população soubesse o que estava ocorrendo, pois a falta de visibilidade permitiria uma "cassação sumária" nas etapas do processo. A greve, em sua avaliação, amplificou a denúncia de "perseguição política", mostrando às pessoas o que estava acontecendo.

Braga comentou a escolha de Paulo Magalhães (PSD) como relator no Conselho de Ética, lembrando um histórico de agressão do relator contra um jornalista. O deputado do Psol narrou um encontro com Magalhães após sua defesa prévia, onde este teria manifestado apoio à manutenção do mandato. No entanto, Braga alega que essa postura mudou após um acordo com Arthur Lira. Ele apontou a contradição de Magalhães ter votado pela admissibilidade de seu processo no mesmo dia em que se absteve na cassação de Chiquinho Brazão (acusado no caso Marielle Franco), sob a justificativa de não cassar colegas, mesmo tendo trabalhado pela sua cassação no relatório.

Refletindo sobre a esquerda no Brasil, Braga enfatizou a importância de suas caravanas e o apoio dos movimentos sociais durante o processo no Conselho de Ética. Ele defendeu que a esquerda deve ir além das "relações institucionais", mobilizando-se nas ruas com o povo para ganhar força e "mudar a política", não apenas salvar mandatos. A estratégia de ir às ruas seria uma forma de não ficar "refém das relações institucionais" dentro do parlamento.

Sobre o crescimento do PSOL e a necessidade de consolidação, Braga identificou uma "lacuna" para uma esquerda com "radicalidade política" que enfrente diretamente a extrema-direita violenta. Ele argumentou que o partido deve apresentar essa posição clara para conquistar apoio popular, pois as pessoas buscam candidaturas que abordem seus problemas cotidianos sem "muita firula". Essa lacuna de ampliação dessa esquerda com radicalidade, segundo ele, existe no Brasil e em outros países, mas há quadros capazes de preenchê-la.