Igreja Católica tem avanço bolsonarista, e novo papa não afeta 2026, avaliam pesquisadores

Publicado em 07/05/2025 às 10:04:07
Igreja Católica tem avanço bolsonarista, e novo papa não afeta 2026, avaliam pesquisadores

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), conhecido por sua fé evangélica, tem demonstrado interesse crescente pelo catolicismo, revelando em suas redes sociais a leitura de obras como a biografia de São Josemaría Escrivá e o livro "Um Olhar Que Cura", do Padre Paulo Ricardo, figura influente com milhões de seguidores online. O interesse despertado por suas publicações o levou a ser convidado pelo Centro Dom Bosco para discutir o tema.

Tanto a Opus Dei, quanto o Centro Dom Bosco e o Padre Paulo Ricardo compartilham uma visão tradicionalista do catolicismo, movimento que, segundo pesquisadores, tem atraído o bolsonarismo, mesmo após o falecimento do Papa Francisco, cujas ideias progressistas geraram reações em setores conservadores da Igreja brasileira. Especialistas acreditam que a escolha do próximo Papa não deverá alterar a influência do bolsonarismo entre os católicos, nem o cenário eleitoral de 2026.

Rodrigo Toniol, antropólogo da UFRJ, destaca que políticos como Nikolas Ferreira buscam ampliar sua base eleitoral, mirando nos católicos, sem perder o apoio dos evangélicos. Ele observa que a ascensão do bolsonarismo na Igreja se manifesta na rejeição a posicionamentos progressistas do Papa Francisco, como a inclusão de pessoas LGBTQIA+ e a defesa do desenvolvimento sustentável.

Apesar da tendência ao reacionarismo, Toniol lembra que a politização da figura papal é antiga, com grupos bolsonaristas criticando Francisco como um militante de esquerda, enquanto setores progressistas tentavam usar sua autoridade a seu favor. Contudo, ele ressalta que Francisco não promoveu mudanças nas doutrinas da Igreja.

Francisco Borba Ribeiro Neto, da PUC-SP, aponta que o bolsonarismo capturou uma tendência comportamental dos cristãos, surgida nos anos 1990, em um contexto de modernização e urbanização que abalou a fé dos mais pobres, levando-os a buscar os fundamentos do catolicismo. Ele observa o declínio de setores da Igreja ligados à esquerda, como a Teologia da Libertação, e a projeção de que o Brasil terá maioria evangélica em poucos anos, segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves.

Borba Neto enfatiza que, embora o voto católico ainda tenha peso, a "palavra católica" é mais relevante, dada a diversidade de interpretações da fé no país. Ele acredita que o futuro do voto católico dependerá da capacidade do governo em lidar com questões como corrupção, transparência e apoio à família. Pesquisas anteriores mostraram Lula com aprovação majoritária entre os católicos.

Rodrigo Coppe Caldeira, da PUC-Minas, também reconhece a dificuldade em definir o voto católico e prevê uma guinada à direita no catolicismo nas eleições de 2026, com a parcela bolsonarista da Igreja se fazendo mais presente. Ele destaca a influência do tradicionalismo em diversas correntes católicas, como a Renovação Carismática, e a atuação da Frente Parlamentar Católica no Senado.

Filipe Domingues, vaticanista, observa que a CNBB se encontra em uma Igreja dividida, criticando tanto capitalistas quanto marxistas. Ele concorda que a escolha do próximo Papa não deve influenciar a política brasileira, mas reconhece o declínio da esquerda na Igreja, que antes abrigava movimentos sociais, mas perdeu fiéis com a redemocratização do país.