Midiático, italiano Matteo Zuppi é cardeal mais à esquerda entre papáveis

Publicado em 03/05/2025 às 12:03:13
Midiático, italiano Matteo Zuppi é cardeal mais à esquerda entre papáveis

Em um cenário global onde a elevação de líderes religiosos ao cardinalato raramente suscita celebrações entre ativistas LGBTQIA+ e partidos de esquerda, a Itália se destaca. A nomeação de Matteo Zuppi como cardeal pelo Papa Francisco gerou uma reação tão positiva por parte de progressistas que a imprensa local chegou a brincar sobre a "festa da esquerda" pela nomeação do que chamam de "capelão do Partido Democrático".

A reputação de Zuppi, 69 anos, como um religioso de esquerda é bem fundamentada. Alinhado com Francisco e defensor de suas políticas, o arcebispo romano sempre defendeu uma igreja inclusiva, acolhendo imigrantes, a comunidade LGBT e os pobres, causas centrais para o Papa argentino, a quem Zuppi é considerado um dos principais sucessores em potencial.

Zuppi vai além de Francisco ao defender uma atuação política da igreja em prol da justiça social, opondo-se à ultradireita e ao "mal do nacionalismo". Essa postura o aproximou de figuras políticas de esquerda e o tornou um adversário de Matteo Salvini, líder da ultradireita e vice-primeiro-ministro no governo de Giorgia Meloni.

A imigração é um ponto central de conflito entre Zuppi e a direita italiana. Em 2019, ele criticou o populismo como intolerante e defendeu que a igreja promova o humanismo e o humanitarismo como resposta ao sofrimento.

A popularidade de Zuppi entre a esquerda se deve também à sua presença midiática e habilidade em usar os meios de comunicação. Ele participa de eventos do Partido Democrático e concede entrevistas na televisão e em veículos da igreja. Um documentário, "O Evangelho segundo Matteo Z", retrata sua rotina e seus esforços para concretizar a visão de uma igreja aberta e acolhedora defendida por Francisco.

Críticos apontam que, por trás da imagem de humildade, Zuppi é um homem ambicioso que buscou ascender na hierarquia da Igreja Católica, cultivando sua proximidade com Francisco e utilizando a influência da diocese de Bolonha. Desde 2022, ele preside a Conferência Episcopal Italiana (CEI).

Se eleito Papa, Zuppi poderia aprofundar as reformas de Francisco, abordando temas como a bênção de casais LGBT (já permitida em sua arquidiocese) e o fim do celibato obrigatório, um assunto que ele afirma estar em discussão. Ele também defende as posições de Francisco sobre desigualdade, mudanças climáticas e a comunhão para divorciados em segundas núpcias.

Apesar de sua proximidade com Francisco e sua posição influente como presidente da CEI, as chances de Zuppi se tornar o próximo Papa são incertas. Sua posição mais à esquerda e o fato de falar apenas italiano podem dificultar a obtenção dos votos necessários no conclave e limitar seu alcance global, especialmente em regiões onde o catolicismo está em crescimento, como a África. No entanto, ele também é um dos líderes da Comunidade de Sant'Egidio, uma organização leiga católica com atuação em negociações de paz e causas sociais em todo o mundo, tendo participado do acordo que encerrou a guerra civil em Moçambique em 1992.